dentista.
fui.
fui ao dentista.
precisava de umas coisas que de tão específicas só um dentista poderia fazê-las.
de forma geral, as pessoas não gostam do passeio ao consultório odontológico.
eu não gosto.
para aliviar a tensão, tento sempre providenciar uma conexão com a profissional que me atende. gosto mais de ir às dentistas do que aos dentistas.
as dentistas seguram minha mão quando choro e me olham nos olhos e dizem eu sei, eu sei, calma.
gosto mais das mulheres sempre.
mas precisei ir ao dentista. na cidadezinha em que moro só ele poderia fazer o que eu precisava.
ele é um tipo simpático, bonito, bem humorado, sorridente. é um tipo agradável. mas eu estava tensa. e quase nenhum dos seus atributos me comoveram.
é mais difícil achar que vou sentir dor do que sentir dor. esse nervosismo de véspera toma conta da minha capacidade de pensar direito sobre as coisas. viro uma espécie de cartomante que prevê uma espiral de tragédias e vai criando cenários horríveis e num cair de moedas estou enterrada num pânico que me imobiliza e alimenta o sufoco da mente.
é uma situação péssima.
no consultório odontológico isso ganha ainda mais potência.
e tem mais uma coisa.
eu fico muito, muito, muito triste. uma tristeza profunda toma conta de mim e eu choro sem parar. para fazer uma simples limpeza acontece isso.
preciso de muito apoio, carinho, atenção e compreensão quando preciso de dentista.
mas um dentista conhece, penso eu, esse tipo de sensibilidade. deve conviver com esse tipo de situação de vez em quando. e como me olhar nos olhos, segurar minha mão e dizer, eu sei, sei, calma, não pareceu ser uma opção, ele me deu um Valium.
um Valium, um único Valium, permitiu três horas de atendimento, 14 pontos e quase uma soneca.
um Valium não é igual a segurar minha mão e dizer eu sei, eu sei, calma, mas permitiu que eu começasse a chorar apenas umas trinta e poucas horas depois de ter saído do consultório.
viva o Valium!
e viva, sempre, segurar minha mão e entender minhas dificuldades!