no paraíso


amanhecer em Antonina é como despencar do sonho para uma realidade onírica.

tudo passa de um jeito diferente e eu reafirmo a certeza de que a vida é mais, muito mais, da que alcança meu cotidiano de cidade grande.

acho graça em ouvir galos preguiçosos que cantam para a chegada do dia. são expertos, esperam que o sol esteja alto no céu para começar a manifestação. não se adiantam, não tratam nada com pressa. sabem que há um dia inteirinho pela frente e de nada adianta ficarem a cacarejar insones pelas madrugadas. os galos de Antonina sabem descansar, trabalhar e aproveitar a vida.

quantos passarinhos aqui! donos de suas liberdades poderiam estar em qualquer outro lugar, mas preferem olhar para baía e cantar. estacionam seus ninhos, criam suas famílias, tratam das sobrevivências e piam sem parar. dão conta daquelas notas que deveriam ser exclusivas para ouvidos de Villa-Lobos ou de Tom Jobim, mas eles são generosos e cantam para quem quiser, canários do reino…

e o cães? não tem cachorro amalucado, todos obedecem a calmaria da cidade, se movem na mesma velocidade da terra, para sempre estarem banhados pelo sol. curtem a preguiça com inteligência.

eu vim para Antonina para poder colocar o trabalho em dia. para ficar longe das distrações que a casa, a cidade, o telefone, a internet, o mundo me causam. vim para me ilhar no quarto até que tudo estivesse na ordem necessária. ancorei com objetivo de concentração. mas essa paz me puxa para um estado contemplativo que não permite muitos esforços além do prazer do ócio.

sei que não preciso explicar muita coisa, porque quem conhece os arredores entende direitinho e quem não saca dessas conveniências, nem todas as palavras da língua convencem. mas o fato é que o melhor lugar do mundo é aqui, e agora…

quer comentar? não se acanhe.

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