minha mãe veio para o almoço. rindo entre babaganuch e hommus, lembrando momentos na companhia de falafel e arroz com lentilha, contando novidades enquanto alguém pedia, me passa o tabule, chegamos ao momento de hoje de cada um dos presentes na mesa – e de uns outros que não compareceram sem temer citações.
misto de Polônia e Ucrânia, minha mãe traz no sangue uma preocupação constante com o amanhã, um sofrimento antecipado por problemas que nem são ainda, uma precipitação dos cenários que podem abalar sua paz. é um comportamento genuíno, marcado por uma educação que nasceu das agruras que seus avós viveram. entendo. mas tudo isso, obviamente, lhe atrapalha o cotidiano.
eu, que sou dada a viver só o dia de hoje, ou como diz o Dé, vida louca, puxei ar, olhei em volta e declarei que não tenho problemas. meu momento particular é de tranquilidade. tenho aqueles percalços diários que enfrento e pronto e algumas tristezas, mas há tempos entendi que farão parte de mim até o apito final.
pois bem, minha mãe aplaudiu, comemorou, ficou aliviada, exatamente como uma mãe fica ao ouvir isso da filha. porém, como tudo nessa vida tem um porém (ai, porém…) ela resolveu pontuar meus problemas, um jeito de me manter com os pés fincados na realidade: falou da velhice, do país, da saúde, do futuro, da semeadura e da colheita. indicou uma a uma as questões que não são fixas e logo podem se transformar em situação muito complicada.
sei que as circunstâncias mudam, que o que é não será por muito tempo; que as bifurcações e suas escolhas num estalar de dedos cambiam o que é calmaria em tormenta. não há jogo ganho. sei. e quando sei, tenho um problema.
eis aqui o meu maior, que é igual ao da minha mãe: o dia seguinte.