acho que ninguém sabe ao certo sobre o amor. as vezes ele parece com um raio de sol que inunda a sala e ilumina corpos. as vezes se transforma em saudade doída; se mostra em todos os lugares menos ao seu lado, onde você pode repousar a cabeça e esquecer do mundo. o amor consegue também vestir as roupas das incertezas e soprar insegurança e é tudo que se tem e se sabe.
talvez amar seja se dividir. ser muitos espectros e não ser nenhum e ser todos – a cor branca, que é ela e é todas e é nenhuma.
provavelmente o amor é uma grande tela vazia onde traços vão sendo pintados a formar desenhos e nos apresentar forma. ou ao contrário, um quadro imenso, abarrotado de linhas e a gente vai tirando, apagando, arrancando o que não combina até que sobre só o seu rosto.
pode ser que amar seja doação, entrega, paciência e altruísmo. mas pode ser também quereres, vontades próprias, desejos para si.
é dormir tranquilo e acordar em susto no meio da noite. é ter insônia e repouso. é ter fome e perder o apetite. é querer comprar presente e esperar por surpresa.
é viver paixão, tesão, ternura, caprichos, carinhos, rupturas, permanências, novidade, tradição.
amar é seguir Vasco da Gama e chegar às Índias, é descobrir a América, é andar por Paris, ser Galápagos, beber em Granada, um tango em Buenos Aires, acender velas em Roma e se espichar no Equador. amar é ficar em casa debaixo do cobertor, é fazer bolo de laranja, coar chá, amassar pão, escrever cardápio.
o amor é um passarinho num galho de árvore esperando a chuva passar. e é, também ou talvez, o vôo livre de uma arpia, ou e também, um puma muito negro com os olhos muito claros a perseguir a caça ou a caça que se deixa alcançar por um felino muito negro, com olhos muito claros, de nome puma.
o amor é um soneto de Camões e um impressionismo de Monet, é achar um cúmplice e estranhar o outro, é fugir e ficar, é ter e soltar, é soltar e voltar.
amar é um barco à vela e um avião supersônico. é uma máquina de costura e uma caixinha de madeira, é arco-íris e tempestade, é grama e mar, é árvore e flor. é floresta e céu azul. é ouvir Bach e rodopiar em salão de gafieira, é um olho no peixe e outro no gato, é ganhar e perder.
o amor é se perder.
Subjetividade com irracionalidade