Hoje em dia, o cinema está vinculado ao shopping (tirando os de freqüência suspeita, com filmes de conteúdos impróprios que ainda empilham-se em prédios velhos no centro da cidade, mas esses, moças de respeito como eu, não ousam nem olhar para a fachada). Pois bem, eu detesto ir ao shopping. Logo, ir ao cinema, já começa com o primeiro desgosto: os corredores artificiais, com pessoas grosseiramente arrumadas e maquiadas que se arrastam olhando vitrines. Isso não é pra mim!
Mas vamos considerar que esse primeiro obstáculo seja vencido e que eu chegue à praça de bilhetes com o humor intacto, feliz da vida, o que estará a minha espera? Uma fila horrorosa, estilo minhoca, com todo tipo de experiência auditiva (e de olfato) que dá a nota da humanidade vivente: comentários sobre a secretária de fulano; fuxicos da vida da sobrinha da manicure da patroa; aspirantes a alguma coisa tecendo falas sobre uma última produção hollywoodiana; o preço do ônibus; o capítulo da novela e assim por diante. A fila parada, por conta da falta de vontade de trabalho da menina do caixa versus a senhora que insiste em tentar provar a idade sem documentos para pagar meia-entrada. A fila parada e as conversas num crescente exasperante.
Quando, enfim, minha vez, até posso me esforçar para ser minimamente simpática, educada, agradável e falo apenas o necessário naquele irritante microfoninho do vidro. Vem a troca infinita da conversa em voz metálica, baixa e desanimada: a confirmação do meu pedido, o valor, a escolha da poltrona (agora tem mais essa), o cartão, a senha do cartão, o ticket do cartão, o ticket do cinema e na falta de sorte um panfletinho qualquer.
Muito bem, barreira saltada. Dentro da sala de cinema, no aconchego do escurinho, na meia luz… a situação piora. A experiência de ver um filme, que na minha opinião é algo como a literatura, coisa solitária, particular, privada, podendo apenas ser compartilhada em comentários pós com escolhidos a dedo, acaba se tornando uma partilha com desconhecidos, um coletivo de horrores. Primeiro os odores, os pobres cheiros de pipoca, salgadinho, perfume barato, suor, mofo, chocolate e por aí vai. Depois os barulhos. Tensos e contínuos, eles se propagam por conversas, bips de telefone desligando, risadas, sussurros, chiados, goladas, latas de refrigerante sendo abertas, sacolas plásticas, tosses, espirros, pigarros. Até som de beijo de casais mal educados eu sou obrigada a ouvir, logo eu, que não sou nada dada a demonstrações públicas do que quer que seja.
O filme começa. Eu detesto som alto e geralmente, o som do cinema é alto, muito alto. Eu não suporto ar condicionado e na maioria das vezes o ar das salas é de bater o queixo.
Mas o filme começa e eu procuro me concentrar nele. Entretanto, mais forte que o filme, mais vigoroso que eu, mais envolvente que o objetivo de conhecer novo tema, logo vem uma sensação de repulsa por me saber sentada numa poltrona que não foi devidamente aspirada após o último ocupante – e quem seria ele?
Quando a soma de todos os fatores se transforma num monstro difícil de vencer, vem o golpe final, aquele que me coloca na lona, que me faz bater três vezes no chão e pedir água: o medo, o pânico, a claustrofobia. E o pensamento final: estou trancada aqui, com um monte de gente que não conheço – e já não gosto –, com um som ensurdecedor que não neutraliza os pequenos barulhinhos mal educados dos companheiros de cela, sentindo cheiros desagradáveis e ainda tenho que encolher as pernas para dar passagem a duas amigas solteironas que conseguiram chegar atrasadas para sessão apesar de não terem nada pra fazer.
Ainda assim um pudor que não sei explicar me segura até o fim. Não consigo simplesmente me levantar, me libertar, me ir embora. Passo a próxima hora e meia num misto de sensações desagradáveis até que subam os letreiros…
Kurti seu desabafo e assino embaixo… também não gosto de shopping e após a leitura fiquei com saudades do CINE BRISTOL, lá perto do Mueller e que depois virou salão de bingo…. eu era estudante e matava aula nos dias de semana a tarde pra ir lá conferir qualquer coisa que estivesse em cartaz… sala quase vazia… poucas pessoas com ar misterioso e clima de quem “está fazendo a coisa errada” como matar aula ou trabalho pra ir ver cinema… e embora vc não tenha dito qual filme foi ver, pelo que contou já foi um TERROR!
jopz
ah! o bristol!!!
eu também cometi imprudências em minha regrada vida de estudante
em nome de tardes furtivas dentro do bristol.
que maravilha eram os cinemas do centro…
dá saudade de tudo: dos cines, da idade, da liberdade, da cidade,
de um tempo em que era tão fácil fugir de algumas coisas… pô
jopz! viagem no tempo total por aqui…
então vamos manter o embalo… conta aí alguns filmes que viu por lá e não esqueceu…
eu vi E.T. quanto era adolescente (1982), cinema lotado, fila na porta, mas muita animação com minhas irmãs junto e até uma tia que hoje é 1/2 louca…
anos depois (1988)eu vi DURO DE MATAR com uma namoradinha chamada ROSANE… ela ficou me incomodando e achando o filme muito violento e eu dei muita atenção pra ela, meses depois descobri que ela não prestava e devia mesmo era ter prestado atenção no filme… ;-(
e mais um tempão se foi, EM 1992 já kurtindo cinema de um modo diferente, fui sozinho, a noite, pra conferir a versão do diretor de BLADE RUNNER… NEVER MORE!
jopz
;-)
que delícia lembrar disso!
eu lembro que fui ver “de volta para o futuro”.
fui tão feliz naquele dia, que até hoje alimento o sonho secreto de comprar um delorean pra mim.
também lembro de “top gun – ases indomáveis”, fui com os filhos de um pessoal de são paulo, amigos da minha mãe, e um dos presentes ficou tentando me agarrar o filme inteiro. troquei de lugar umas 19 vezes durante o filme e o chato insistia em me perseguir, até que saí da sala e fiquei lá em baixo, do lado do pipoqueiro, esperando o filme acabar para voltarmos todos juntos pra casa – como recomendou minha mãe. que saco!
ah! e adorei assistir todos os “rambos”.
depois, quando cresci um pouco, fui mudando o gosto, pensando nos filmes de um modo diferente e acabei me concentrando nas video-locadoras, o que foi me afastando das ofertas das salas e, por fim, repensando minha relação com o mundo e me afastando das aglomerações e, no meio de tudo isso, a falência do centro da cidade e a mudança dos cines para os shoppings…
e, com isso tudo, aqui estou: amargurada e neurótica.
Nem amargurada, nem neurótica aqui estou eu, sua ex-amiga, pra dizer que nenhum pudor me convenceu a permanecer numa sala de exibidoes [ou onde quer que fosse], ou a aturar o som ensurdecedor que eu, certeza absoluta, detesto mais do que qualquer pessoa [incluindo N] deste mundo imundo.
Da última vez lembro que fui, disparei feito uma boiada com estampido no meio, até a sala do gerente e disse a ele que mandasse diminuir a nhaca, pois aquilo era coisa de gente louca. Ele ficou tao afrontado com a minha petulância, que executou minha ordem, meu pedido, minha súplica, whatever.
Mas em verdade, em verdade vos digo, que desde sempre fui uma contumás detestadora de salas de exibiçao, pois minha mais tenra experiência deu pra minha cabeça, pro resto da minha inútil e desinfeliz vida. Um dia eu conto.
Jopinhozzz, estou enciumadíssima. Vc nunca falou essas coisas pra mim, mesmo quando falamos da Garota Delponte, a nossa assessora pra assuntos cinetelematográficos. Irra!!!
AIMEUDEUZ, a ira da NERVOSA é algo que prefiro evitar… ok ok, já vou lá fazer alguma confissão adolescente pra vc também…
;-)
JOPZ
vixi! faça isso mesmo! o quanto antes…
você leu ali o lance de “ex-amiga”, né? a situação merece atenção total.
corre!
Não sei se comento a ira da Nervosa San ou as sessões nostalgia do cine Bristol, onde só fui uma vez ver Gremlins, meu cinema favorito era o Cine Condor, onde fui ver E.T. duas vezes.
Mesmo sendo cinéfila de plantão, tenho evitado o cinema, que adoro, mas sempre que entro tenho a vontade de mandar todo mundo embora e ficar com a sala só pra mim, aí penso que deveria estar vendo um filminho em casa, no conforto e sussego do meu lar (quando os vizinhos, os mesmos tipos que vão ao cinema de shopping, deixam).
Já passei uma situação no mínimo estranha no cinema do shopping Villadium…ops Palladium, como o parque de jogos eletronicos fica logo abaixo da sala 1, e tinha, não sei se ainda tem, aqle brinquedo de atingir com uma marreta uma espécie de balança que mede a força da pancada, fui à sala 1, ver um Harry Potter qquer, e toda vez que alguém dava uma marretada no tal do brinquedo minha poltrona tremia… pensem primeiro no tempo que levei pra identificar o que estava acontecendo e que não era o prédio do Villadium que tava caindo…
Tenho aproveitado sessões no cinema do Novo Batel, espero o filme estar quase saindo de cartaz ou ser filme cabeça pra aí encontrar pouca gente(lha) na sala.
Alguém já experimentou as salas VIPs do novo Itaú do Shopping Crystal? Quanto será alugar uma sala só pra mim e alguns convidados ultra VIP?…rs
Abraços Adriana, da sua nova seguidora.
guria!!!
que horror essa história. é o fim da picada mesmo!
sobre o novo batel, você tem total razão, lá, quase sempre, é uma ótima opção. vaziozinho da silva…
sobre o crystal, eu ainda não sei, mas não tenho esperanças, ainda que 60 paus pelo cinema afaste parte da gentalha, o comportamento que me irrita não tem relação direta com grana, mas com educação, modos (como diria minha mãe), respeito dos viventes.
obrigada por sua companhia.
beijo,
Com certeza, essa genta(lha) que me refiro tb não tem relação com mais ou menos dinheiro, mas com educação mesmo, já em eventos ditos da high society em que havia gente furando fila, fazendo barraco com garçom, infelizmente o dinheiro pode pagar os melhores cursos, mas não compra aquela educação que vem de casa e requer um pouco mais de esforço e paciência.
falou e disse!
assino!!!
:o)
Quanto chilique!
Pensei encontrar uma coisa diferente, mas li apenas as impressões de uma pessoa demasiado aborrecida, que não suporta outras pessoas. Enfim, eu também odeio cinema (portanto vim parar aqui), mas até agora não achei o ponto de vista que estou procurando.
Putz…