tempo desses, precisei ir a um evento do tipo barra pesada: cabelos, maquiagem, vestido longo, salto alto e quetais. nada que combinasse muito com o relax-maloqueira de todo dia, mas obrigação é obrigação, não há discussão.
me arrumei seguindo todos os ritos, roupa escolhida, ajuda de profissionais de várias áreas, incluindo os da psicologia. a me achar um pouco ridícula toda montada, tirei uma foto e mandei para um amigo. gentil, usou de sofisticação no humor para me fazer piada: estás a parecer uma andaluza.
ri.
pois nessa semana a Etel veio aqui em casa com a notícia: aulas de expressão flamenca na sexta-feira cedo. no começo achei que era um gracejo pra me ver sem jeito. mas a conversa foi ganhando ares de verdade, seriedade nos horários e descritivo dos conteúdos.
aceitei porque eu não sou maluca de dizer não a Etel. mas confesso, aqui na surdina, que achei que a novidade se diluiria com o vinho que experimentamos à noite. qual nada!, ontem veio o lembrete: Oiê! Tá de pé o flamenco? Te pego às 9:10h?. não reconheci os pontos de interrogação como verdadeiros, passeio-os todos a exclamações e balancei a cabeça diante do computador: combinado.
o dia amanheceu chovendo na minha janela. gotas que me diziam em sussurros para eu não sair de casa. sou fã da preguiça, serva da preguiça, entregue à preguiça, amante da preguiça. mandei dois recados e liguei pra Etel com o objetivo sem vergonha de fazermos uma gazeta. cheia de cuidados comigo, me disse que os planos continuavam de pé, passou aqui e nos mandamos.
pois bem, sou figura tímida. muito. tenho vontade de enterrar a cabeça no chão, não a minha, a de quem olha pra mim. morro de vergonha de qualquer situação que me coloque em evidência, ainda mais assim, de um jeito que denuncia no primeiro passo toda a minha incapacidade corporal com um grifo em meus descoordenados gestos.
mas, de uma coisa me orgulho (?), se estou na chuva, me molho. fui vestida do jeito mais flamenco que consegui para uma sexta-feira de carnaval, lá mesmo comprei um par de castanholas e aprendi a contar no compasso.
gostei. gostei muito!
agora fico imaginando um jeito de agradecer a Etel por ter libertado a andaluza que vivia querendo saltar desse corpo luso-ucraniano.
gracias, Etel. olé!