“…E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução…”
(O Operário em Construção, Vinícius de Moraes, 1959)
ia fazer uma reclamação pública. a pensar sobre a situação, mudei de ideia. me encolho e me presto apenas à narrativa. cada um tem que saber do seu lugar. difícil, mas sei do meu.
recebi três convites. novos trabalhos.
por partes.
o primeiro se trata de atividade que eu já exerci no passado. coisa relacionada à escrita, educação, comunicação e informação. gosto. gosto muito. e gosto tanto que fui eu que desenhei conceito, concepções e o inaugurei na época, na mesma empresa que agora me acenou… não pude aceitar a dança porque meus recursos intelectuais precisam de mais grana do que me ofereceram para funcionar. infelizmente.
o segundo é coisa para escrever num site. parceria, eu entraria com textos e a outra parte com a publicação. seria uma vitrine para mim, explicaram. comunicar sobre música. neguei. já escrevo sobre música na Revista Ideias, onde recebo pelos meus artigos e não há esse tipo de proposta indecente. meus recursos intelectuais precisam de grana para funcionar. felizmente.
o terceiro também vem de experiência de outros tempos. comunicação e música. também inventei o lance na época, anos atrás. agora dizem que me precisam para colocá-lo novamente para girar. fiquei feliz. mais pelo projeto que voltará ao ar do que por mim. quem me chamou sabe que eu gosto muito da atividade, que ela me complementa, me exercita, me alimenta. e sabe também que há custo para caraminholar coisas com responsabilidade. fizeram justiça aos meus recursos intelectuais. justiça justa, nem mais nem menos. aceitei.
acho estranho quando pessoas querem me contratar e não consideram que o trabalho é feito em troca de dinheiro. mais estranho que isso, é quando me dizem “escreve tal coisa pra mim? é rápido e fácil, não custa nada”. caçarola!, se é rápido, fácil e não custa nada, por que me pede? por que não trata da pendenga e pronto?
sei que esse é um discurso rouco de tanto que outros profissionais já o ouviram. vira e mexe meus amigos músicos, fotógrafos, ilustradores, jornalistas, artistas plásticos recebem convites estapafúrdios assim. que depressão ter que, 2015, falar de coisa tão básica. e nem era pra ser uma reclamação…
– ah! antes de possíveis pedras. uma coisa é trabalho de verdade, outra é favor que a gente pede e trata escambamente com os amigos.
Muito bom! Não é só você. Não sou só eu. Não é só em 2015. Se juntasse todos os cambaus que levei, e as propostas que aceitei para ganhar $depois, dava para escrever um bom livro. Ou não, porque provavelmente não teria nem adiantamento.
acho frustrante quando alguém me elogia o texto e me pede gratuidade no trabalho. melhor quando ouço crítica bem fundamentada e me exige seriedade na escrita para poder trabalhar.
a grande coisa é que ainda há gente decente por aí que sabe o valor do trabalho, do tutano, do tempo…
como disse Cacilda Becker, não me peça de graça a única coisa que tenho para vender.