pensei em passar um tempo sem escrever. não traçar nenhuma linha, não conjugar, não tratar de achar os cognitivos para minhas ansiedades.
deixar que as letras fiquem em caixas, trancadas, descoladas, misturadas e sem sentido.
fiz um plano de leitura. um mergulho em canais fundos em que tenho boiado com certa displicência porque sempre me ocorre alguma coisa para dizer. e quando nada me perturba a ponto de virar texto, eu provoco e me distraio batucando mal traçadas…
é urgente parar de escrever, deixar para trás essa euforia besta que entope cadernos, pastas, arquivos, e tratar do que interessa.
mas desgraçadamente o que faço, como vivo, o que sou tem relação direta com a escrita.
algumas vezes, faço isso com competência e dá tudo certo. noutras coleciono vexames retumbantes.
numa busca supérflua sobre o assunto descobri várias explicações científicas para o impulso da escrita. a mais bonita, e perigosa, diz respeito ao sistema límbico, que é uma porção de células responsáveis pela emoção.
parece que o ímpeto da escrita começa, veja só, logo ali no límbico para depois se conectar com outras células nos lobos temporais, decodificar e virar texto.
também fiquei sabendo que um tipo de antidepressivo específico pode controlar o fluxo verbal.
mas isso nem é o que há de mais importante nessa tentativa fracassada de negar o texto.
o fato é que como aprendi com Robert Musil não sou feliz a ponto de não precisar escrever.