treco difícil é fazer propaganda de si mesmo. se auto-elogiar é uma das mais desonrantes formas de dizer ao mundo a que veio.
estou a sofrer dentro dessa maldita questão. publiquei livro. leio, acanhada, tímida e desconfiada, comentários positivos, publicações a enaltecer a obra, generosidades em mensagens. tudo isso é bom. perigoso, mas bem gostoso.
sei que entre meus devaneios de independência figura a dificuldade de promover-me, contar-me, propagar-me. é preciso que eu diga com todas as letras os motivos que me fazem crer que a escolha, compra e leitura do meu livro são ações fundamentais na vida das pessoas. e são? claro que não! o que qualquer estante mais ou menos, como a minha por exemplo, apresenta como opções de leitura, já é um universo imenso de alternativas. imagine concorrer com toda a literatura do mundo. imagine os clássicos. imagine uma grande biblioteca. imagine as leituras técnicas obrigatórias. imagine o seu autor favorito.
agora pense nessa cena: eu, numa livraria, a falar em causa própria: “crônica?, não, não leve o Rubem Braga, compre o meu livro, ele é muito bom!”. acho que me colocariam imediatamente numa camisa de força e me trancariam para nunca mais.
numa anti-propaganda, mesmo precisando muito dela, dou sugestão, ainda que ninguém me tenha solicitado: se te sobrar uma graninha nesse mês, vá à livraria e compre um livro do Rubem Braga. este sim, fundamental.
Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse — “ai meu Deus, que história mais engraçada!”. E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria — “mas essa história é mesmo muito engraçada!“[…] (Rubem Braga)