pré-tensão

– qual é a sua pretensão, Adriana?
ouvi a pergunta. a pessoa o fez como se a interrogação tivesse uma resposta certeira. não era uma abordagem à conversa aberta, ao diálogo livre.
menos ainda era uma possibilidade de ouvir com atenção e interesse os resultados da pergunta que não fizessem parte do script já consolidado por anos de prática de dominação, clichês e falsidades.

pretensão.
o Houaiss localiza este substantivo em 1587. no latim medieval as pessoas já pretendiam.
e eu, hoje, pretendo o quê? me perguntam e eu fico escandalizada, apavorada, paralisada. sei que não posso dizer qual é minha pretensão, sei também que não posso mentir uma pretensão.
sei que não posso ser pretensiosa.

este é um texto muito mal escrito, também sei bem, mas tive vontade de falar sobre isso só para pensar sobre o número de perguntas que ouvimos todos os dias e que não significam nada.
há um bombardeio de interrogações imprestáveis. perdemos tempo e latim perguntando e respondendo num grande vazio.
que coisa cansativa! tanto quanto este texto, que não consigo melhorar, mas que o sinto urgente.

pré-tensão por todas as perguntas que me aparecerão hoje.

quer comentar? não se acanhe.

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