poderia ser uma boa metáfora para a vida monogâmica: após o acasalamento, os cupins perdem suas asas.
asa de cupim é uma coisa muito fina, muito frágil, muito quase nada.
quando eu era criança, lembro da chegada do calor, dos primeiros dias quentes e de fins de tarde sufocantes com asas de cupim perto da porta de entrada de casa.
não sabia muito bem do que se tratava aquela seda transparente. entendia que eram asas, mas como elas se espalhavam sem corpo não conseguia uma interpretação.
hoje, depois do almoço e dos maravilhosos 27 centígrados, cheguei em casa e tive a surpresa.
uma infestação de cupins.
infestação de cupins e de asinhas de cupins. o que significa que havia rolado uma suruba pesada enquanto eu me aventurava nuns chopes apelidados de sextou.
foi bem desagradável.
é impossível varrer asinhas de cupim. elas, sem vida, voam, grudam no chão, ficam imóveis, desaparecem, reaparecem.
talvez um super aspirador ajudasse. não tenho um super aspirador. não tenho um aspirador.
vestida com as roupas e as armas possíveis enfrentei a situação: pano, água e vinagre. foi essa tríade que me permitiu me livrar de umas 300 asinhas. e alguns donos delas extasiados de prazer e em dia com a reprodução da espécie.
com este título, eu havia pensado em escrever um texto poético, a tratar de um jeito bonito asas e amor. queria apontar o contraditório entre o cupim e o humano. pensar sobre como a união de dois corpos deveria rimar com liberdade e voo.
mas foi o vinagre que temperou minha tarde e só consegui chegar à conclusão de que quando os cupins perdem as asas, perdem a vida junto.
eu sinto muito.
a foto é da internet. não tive presença de espírito para retratar o cenário aqui de casa antes da faxina.