às vezes é difícil saber que as coisas estão acontecendo.
o gerúndio, este tempo leve e eterno, sem começo nem fim, que só está, um dia depois do outro; que desafia o que é passado, o que é futuro, que desafia o presente, embrulha o entendimento.
o gerúndio prega peças. é zombeteiro. faz a gente falar coisas como metade do ano passou, já é natal, esta foi uma semana perdida, parece que foi ontem…
o gerúndio é o amigo de todas as monotonias. e placenta para novidade.
ele é o enganador do tempo e o próprio tempo. é vítima, carrasco e expectador.
o gerúndio é, está sendo…
foi Laura, a árvore, que me ensinou que dá para agarrar o tempo, segurar em seus ombros, olhá-lo nos olhos e percebê-lo devagar.
enquanto espero pelos caquis, posso saber de tronco e galhos, folhas e flores, passarinhos e ninho.
é o tempo. é o novo acontecendo.
todos os dias, todo santo dia, me sento na frente da árvore e percebo sua mudança. e quando percebo sua mudança é diferente de saber que ela está mudando porque dou as mãos ao gerúndio e compreendo o que ele é a cada momento e não deixo que me engane.
olhar para a Laura todas as manhãs é um jeito de saber que antes de cada segundo ser marcado, alguma coisa acontece e ela é indispensável para que a polpa da fruta escorra pela minha boca.
os caquis demoram e esta é minha glória.