adoro piquenique. nunca faço.
me dá preguiça. muita mão de obra: reunir coisas, preparar comidinhas, encontrar fórmula fácil para deixar a bebida gelada, ter toalha xadrez.
escolher um lugar também não é tarefa leve. não pode ter formigas, mosquitos, abelhas ou qualquer coisa que voe, ande ou se arraste. nem gente barulhenta, xereta, que goste de conversar por perto. só mesmo curitibanos da década de 1970, nem oi.
um piquenique precisa ser uma ilha com nuvens cercada de vários dias de sol e de chuva por todos os lados, porque não dá para ficar se torrando, mesmo que embaixo de uma bela castanheira, nem montar todo o esquema na grama molhada das chuvas dos dias anteriores. nesse dia, que faz limite entre a temporada de sol e de chuva, sopra aquela brisa fresca que beija o rosto da gente. é de precisão adivinhá-lo, sabe-lo, reserva-lo. ah! nossa imprevisível Curitiba…
outro lance do piquenique é a vontade de beber champanhe, de usar talheres e louças de verdade e reunir tudo isso (mais mini sanduiches, tortinhas de alho-poró, cuque de uva, frutas picadinhas e sem estarem meio tingidas por aquela cor marrom depois da primeira facada) numa bela cestinha de vime, duas tampas e uma alça. e carrega-la com a graça e o despojamento de quem segura uma flor, sem ter o corpo inclinado e o braço doendo como se estivesse puxando um gorila.
para um bom piquenique também é preciso o vestido perfeito, chapéu de grandes abas que não atrapalhem a visão e não deixe o cabelo feito o do Bozo na eventualidade de querer tirá-lo para deitar e apontar os algodões no céu. as sandálias, delicadas e confortáveis, são descalçadas com esforço mínimo e isso já me lembra que os pés precisam ter feito uma visitinha ao pedicuro.
outro detalhe importantíssimo do piquenique é a companhia, claro. não pode ser um namorado pamonha, sem muita iniciativa e que não saiba adivinhar as fomes, corpo e alma, do evento; nem aquele apressadinho que vai logo colocando a mão onde não deve, corpo e cestinha.
a companhia ideal para o piquenique, sabe que é capital tirar do bolso um livro de Fernando Pessoa e puxar poema; faz duas ou três perguntas sobre assuntos que você queira conversar; reconhece, algumas vezes, a beleza de quem está à sua frente e conta histórias divertidas e interessantes.
o horário. os finais das tardes de verão são ideais. quando o dia vai acabando há aquela transformação interessante entre um momento e outro; o que é e já foi e o que ainda não chegou e se mostra, tudo misturado em tons de rosa, azul e lilás. porém, antes que a noite aconteça de verdade, tudo estará organizado para a despedida do cenário.
adoro piquenique. nunca faço. me dá preguiça.
Pois é… Há que se ter pique para pensar no nique…
GK
;-)