Tempo atrás o diabo me visitou. Sedutor, tratou de fazer graça, jogar charme, preparar terreno. Trouxe flores, cantou a mais bonita das músicas, me tirou pra dançar. Preparou drinks, fez comidinhas e me desafiou para misterioso jogo.
O fascínio desta visita é o perigo, o risco, a corda bamba. O diabo não gosta de certezas, não inspira confiança, emite prazo de validade para as situações, mas não o revela. E quem abre a porta e permite sua entrada, vive com a guilhotina a apontar, sedenta, para o pescocinho.
Eu nem quis deixá-lo entrar. Também não tratei de evitá-lo. Fui observando-o, adivinhando-o, assistindo-o. Mas ele conhece as receitas de sereia, sabe muito sobre fascínio. O jogo se estabelece rápido, ágil, agressivamente agradável. Explode em prazeres e se tranca na alma.
No dia em que o diabo me soube sorridente, me olhou nos olhos, fundo nos olhos, e eu entendi que estava perdida. Silêncio.
Com chicote no olhar, nenhum perdão e garras afiadas, o diabo espera a hora precisa e conta a que veio: esmigalha rosas, pisa em sonhos, lança flecha envenenada, apaga luzes. Ri satisfeito e vai embora.
Mas o pior, o pior de tudo, é que ele muda de nome, de figura, de papel. Te procura distraída em situações diferentes, dá um tempo e quando você está se colocando de pé, ele bate à porta, sorridente e sedutor, não pede licença e se instala para te puxar pela mão e te convidar a nova viagem.
Quem resiste?