amiga de todos os carnavais me sugeriu que fizesse, próprio punho e forma particular, uma retrospectiva de 2015.
disse para eu inventar umas colunas e tratar de preenche-las: alegrias, tristezas, frustrações, vitórias, negações, viagens, brigas, presentes e por aí segue.
obediente e adoradora de listas, tratei de fazer a viagem de volta e caminhei pela memória.
ao fazer as anotações saquei que tantas intensidades amontoadas num único ano me branquearam mais os cabelos do que eu esperava. e essas rugas aqui embaixo dos olhos? é o preço…
não sei definir muito bem na escala positivo/negativo pra qual lado a balança pendeu. se tratar do número e qualidade dos acontecimentos, fico confusa. mas estou aqui, vivinha da silva, com o poder de lembrança, relato e, até certo ponto, análise. isso já deve ser motivo suficiente para comemoração, acho.
vivi muitas coisas em 2015 mesmo. impensáveis em outras épocas da vida; condenáveis nos primórdios da formação moral; aprisionadas nos preceitos sociais.
experimentei liberdades. e elas são ótimas e desenferrujam as asas. varrem pra longe a poeira dos dias iguais e me deixam voar até um território em que tudo é permitido. não sei se são compatíveis com a realidade, mas os seus pequenos momentos de deleite na beirada do precipício valem o risco da queda.
também provei gostos amargos. bílis em trabalho intenso, a outra ponta da história. não gosto, mas acho que o sofrimento extremo é tão ilusório quanto o contrário, a felicidade sem fim.
dois lados da mesma moeda a fazer com que o gráfico apontasse para o céu e para o inferno em movimento contínuo. porque é assim mesmo, estar nas alturas é ter o vazio embaixo e despencar no vazio é se estabacar sem piedade.
mas há outro ponto interessante nisso tudo. os dias análogos; os que não contam e nem são lembrados porque passaram brandamente pelo calendário; os que não foram dignos de anotações nos diários; os que para sempre ficarão no passado, sem sombra ou memória. assim, esquecidos, injustamente entulhados no campo das inutilidades. são eles, no entanto, que permitiram que tudo acontecesse, deram o respiro, o puxar fôlego para as jornadas mais atribuladas. permitiram que eu repousasse quietinha em suas poucas variações para poder continuar a viver veemências – de um lado e do outro. talvez eles tenham sido uns 65 gatos pingados para 300 tigres loucos, mas me tiveram muita serventia.
agradeço a dádiva dos dias mornos. não fossem eles, acabaria 2015 congelada ou incendiada.