tenho frustrações. a mais pública, e talvez a mais confessável por ser menos feia, tem a ver com a música. nunca aprendi a tocar nada. sempre quis. mas faltou a disciplina necessária, dobrada, para uma sem talento como eu. todas as minhas tentativas tropeçaram, caíram e foram soterradas num buraco.
estou para sempre ali na zerésima escala. e quando tento fugir, num único passo corro até a oitava.
mas o fato de não saber dedilhar o bife ou arranhar prato com garfo ou segurar o ritmo num chocalho ou manter afinação no parabéns-pra-você, não significa que eu não goste. ao contrário, gosto e gosto muito. gosto e gosto pra valer.
nessa árvore imensa que é a música, tenho única preferência: o galho da música boa, de qualidade, feita por gente de alta conta intelectual.
desde sempre tenho trilha sonora. se não tenho talento nem disciplina para aprender as formalidades, ao menos me resta bom gosto para apreciar e alguma, desculpe se pareço pernóstica, inteligência e sensibilidade para avaliar.
há alguns anos enquanto trabalhava na rádio Educativa e desenvolvia projetos de música em sala de aula no Positivo e na Secretaria de Educação, recebi convite do Fábio Campana para escrever na revista Ideias. aceitei. e desde então, todos os meses, trato, por meio da MPB, dos temas que estão vivos e pulsantes em nossas vidas cotidianas, longe de palcos e discos.
e é a partir dessa experiência que chega o “Salve o compositor popular”. há tanta beleza, explicação, humor, sofrimento nesse grande espelho, que boto fé que são os compositores os grandes tradutores do nosso espírito. quem pode duvidar disso?
e como se não bastasse o prazer de escrever um livro sobre isso, tenho mais, muito mais. o Miran, Mirandinha, Oswaldo Miranda, um gênio do design, um nome respeitadíssimo, internacional, cheio de prêmios e grandes realizações topou ceder intelecto e arte para o livro. e não só isso, fez mais. chamou o Márcio André Cunha para fazer a arte final e sequestrou algumas caricaturas do JBosco, como uma surpresa adicional. é muita areia… tenho que fazer mil viagens com meu caminhãozinho.
deixo de lado a parte que me coube nesse negócio, para falar sem nenhum exagero: o livro, o objeto-livro, está lindo. lindo, lindo, lindo! tenho orgulho e afirmo que há tempos não via uma publicação tão elegante.
ave Miran!