separarse para siempre

recebi música para ouvir.
pop, espanhola, feita para o sucesso. temática, separação.

a separação não existe.
é uma das coisas mais difíceis de fazer na vida e mesmo assim não existe.
ninguém se separa.
separação é coisa gerúndica, fica acontecendo, não termina… não permite a circunstância definitiva separada.

quando as relações começam a acabar (que é bem perto de quando elas começam a começar), é quando as separações têm início.
às vezes esse estágio dura muito tempo. constroem-se casas, tem-se filhos, fazem-se viagens, comemoram-se bodas, durante as separações.
durante as separações também há jantares, silêncios, obrigações, vínculos, solidões.
ainda no tempo das separações, os casais juram o amor, prometem o impossível, apagam a luz e dormem.

quando chega a parte mais dramática da separação, não nos damos conta, mas cada componente deste clímax já foi vivido.
está tudo mascado, engolido.
tudo já percorreu o corpo inteiro, circulando pelos sistemas, entupindo veias e adoecendo o fígado.
no ápice da separação descobre-se bílis, amígdala e uns hormônios que estavam sufocados nas mentiras sinceras de cada dia.

e esta separação nunca acaba.
para sempre continuamos nesse gesto da distância. mesmo quando tudo está curado e resolvido, continuamos a nos separar.
moto-contínuo.
dínamo.
cada dia a mais corresponde a não sei quantos metros de distância.
cada dia a mais, um buraco mais fundo.
um muro mais alto.
e as separações não terminam nunca… é preciso continuar a acrescentar quilômetros, retirar terra e empilhar tijolos.

continuar para sempre se separando é o gesto da condição humana, que inventou o amor para poder inventar todo o resto – incluindo palavras como hasta aquí, tener un mar ou ya no te recuerdo.

as separações moram num sumidouro.
as separações são dois espelhos, um em frente ao outro, para sempre multiplicando a distância.
hasta después del olvido.

  • foto, espelhos paralelos, site Brasil Escola.

quer comentar? não se acanhe.

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