ai que difícil quando a sexta-feira chega…
quando é sexta e ainda é preciso que seja quinta, que se insista a quinta, que se alongue a quinta, que a quinta continue para que se tranque lá dentro tudo que pertence a ela…
deveria ser proibido rodar a folhinha sem que as pendengas tivessem sido resolvidas, acabadas, rompidas. à Cesar o que é de César. e à quinta o que é de quinta…
o calendário deveria obedecer a ordem das resoluções: coisa solucionada, folha virada.
do contrário, deveríamos permanecer nos eternos dias dos pólos, enquanto a cabeça não estivesse livre, o novo não viria. e assim poderíamos caminhar nas límpidas manhãs, sem medo, sem passado, sem feridas. tudo bem resolvidinho e solucionado.
nessa sexta, que ficou presa à quinta, penso nos poderes dos problemas e me abaixo insatisfeita, pequena, infeliz, humilhada…
penso também que tenho jeito para mudança, que faz parte de mim jogar para o alto, assistir a chuva e renascer na nova composição que me cair do céu. mas não quero. tenho desgosto em recomeçar.
não quero outra sexta, mas preciso que ela comece e diga e plante e colha e termine e me diga que com o novo dia outras coisas virão.
que essa chuva que cai lá em baixo, fresquinha, seja a água que me lavará a alma e me permitirá renascer – para o novo ou para o antigo, sem dúvidas ou medos ou desassossegos.
que essa sexta que se precipita seja para me contar em sussurros o que a quinta não me disse.