um circuito de dois minutos (e as vezes de uma vida inteira).
a saudade começa branda a pensar em beijo ou olhar ou música ou corpo. caminha um pouco nos complementos e chega a um destino que não existe mais e que mesmo assim faz parte do tempo em que se está. lentamente vai tateando, olhos vendados, um cantinho que deixou de ganhar raios dourados ou de se encharcar em água límpida. e em meio a imagens nubladas e fios de pensamentos se transforma em melancolia.
languidez, desânimo e um desconcerto com os outros tempos. meia-luz, chocolates, choro e alguma bebida: a evolução da melancolia é a tristeza.
e a tristeza trilha as vielas mais escuras das sensações, oferece pêsames aos sorrisos, tranca as vontades e quando esbofeteia o coração se transforma em rancor.
um bichinho muito miudinho que tem fome e corrói as entranhas, as tripas, suga o sangue e cospe veneno. o rancor cresce se alimentando de qualquer esperança que encontre pela frente, devora tanta coisa que explode e seus farelos se juntam, criam massa muito sólida e volumosa chamada raiva.
a raiva ressuscita o corpo, faz vibrar uma porção de sentidos, se move rápida e cheia de engenhos. atira copos, quebra cristais, engata em erros, contesta o perdão. a raiva se aprisiona num grito para dentro, sapateia no túmulo do amor e vira ódio.
e o ódio é paixão em grau máximo. rasga fotografias, pica cartas, arruína prédios, espatifa qualquer sinônimo do antônimo e no avesso incendeia tudo. e só consegue provar que em cada brasa ainda mora a primeira chama: o amor, que morre de saudade.