sobre viajar

não tenho endereços em linha reta. quando estou a andar, sempre prefiro fazer o caminho mais bonito, mesmo que isso multiplique quarteirões. a beleza está solta por aí e colocá-la como integrante nos prazeres cotidianos é enriquecer a vida.
fora de casa, em viagem, essa atitude é potencializada. parece que todos os sentidos estão trabalhando com mais força. detalhes mínimos de portas, história contada em plaquinha de 30 centímetros, marco de uma batalha, anúncio de liquidação, vitrine de confeitaria, sotaques do mundo ou um sax solitário em praça têm grau máximo de observação.
sinto os lugares mais que os vejo. gosto. e não me preocupo muito com endereços. distraída, a andar com o mundo inteiro como companhia, me acho e me perco e me encontro e me renovo.
viajar é mais que conhecer ou rever lugares, é mais que encontrar pessoas ou descobrir endereços, é mais que saber de novidades ou revisitar antigas paradas. viajar é paradoxo. é sair para poder voltar, é olhar para fora para se notar, é ir para poder voltar.

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