há muitos anos a Fran, super amiga da minha irmã, se mudou. era casa nova, vida nova, novos horizontes. estávamos empolgadas com o momento, uma felicidade que corria solta. ninguém tinha muita grana. para felicitar a casa nova, compor o enxoval e dedicar parte significativa minha naquele momento que era tão glorioso e inspirador, dei de presente um jogo de taças que havia sido da minha avó.
cristal, champanhe, bojo largo, art déco, década de 1930. queria mesmo que a Fran começasse em alto estilo, a levantar brindes com a fineza de outros tempos e sempre que fizesse isso lembrasse de nós naquela elegância bordada com folhas.
quase duas décadas depois, a ler sobre os diversos tipos de taças e suas respectivas funções para cada bebida, encontrei a informação de que aquele modelo, que diz a lenda que teve o formato moldado no seio de Maria Antonieta, não é adequado ao champanhe nosso de cada dia. “Sua boca é larga, o que dificulta a formação de espuma e, assim, faz com que os aromas se dispersem no ar. Além disso, sua altura pequena não permite o correto desprendimento das borbulhas. Evite-as”. não quero evitá-las. acho-as delicadas, bonitas, chiques.
pois bem, na maior cara de pau, corri atrás das taças. nem é tão difícil achar similares num bom antiquário, mas as da minha avó dariam um plus aos meus utensílios domésticos. falei com minha irmã, procuramos a Fran e propusemos troca: ela escolheria um jogo que caísse em seu gosto, eu compraria e trocaríamos. a Fran não quis. não aceitou. presente é presente. e me veio com a resposta: prefiro fazer uma re-doação. ah! quantos brindes-Sydor poderemos continuar a levantar… gosto de pensar que elas por muitas décadas acompanharam minha família, espiando, de cima da mesa ou pelo vidro da cristaleira, filhos, netos e bisnetos nascendo e crescendo e depois saíram para conhecer o mundo e agora voltam pra casa para continuar o serviço original.
jamais poderei agradecer a generosidade da Fran em compreender isso tudo e se desprender de tão lindos objetos para satisfazer essa doideira minha de querer ter o passado no presente de um jeito tátil.
salut, Fran!