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Pela fresta do quartinho espiei o dia chegando. Não soube direito de suas cores, menos ainda de suas horas; só de suas chuvas que choviam… Sentada aqui, desde quando ainda era ontem, percebi o futuro assim, sem anúncio ou festa, sem gritos ou comemoração. O sábado se fez silencioso, mas bem urgentinho de suas obrigações. Para não atropelar nada nem dar pressa ao que não …
Tirei da gaiolinha lápis, gizes, tintas. Todas as cores libertadas. E todas as disposições para usá-las. Saquei as algemas do bloquinho de canson que guardo há muito e que agora é manchado pela pátina do tempo, amarelado pelos anos de gaveta. Abri bem as janelas, escancarei as cortinas, afastei os móveis. Com os ventos a circular, espalhei material em cima da mesa. Escolhi música de …
Foi na casa da Suzie e do Vicente que descobri que os azulejos têm serventias diferentes de revestimento e decoração. Lá, os principais telefones da família e alguns desenhos dos filhos cobrem os ladrilhos. Logo após essa visita, precisava deixar um bilhete pro Dé e tratei de fazê-lo na parede da cozinha. Recado recebido, recado respondido. Bom lugar para comunicação rápida. Depois, foi minha falta …
O quartinho dos fundos virou meu santuário. Trago tudo pra cá, me tranco com a porta aberta e vivo. No começo, queria que as coisas fossem acontecendo devagar por aqui: primeiro a escrivaninha, onde meu filho aprendeu as primeiras letras, e com ela decidiria o que viria depois, o que nos faria companhia e comporia o lugar do tão sagrado trabalho. Mas rapidinho chegaram …
No sábado de chuva me tranco aqui no quartinho e inicio texto. Um texto sem motivo, sem musa, sem muita vontade. Tenho todas as teclas disponíveis e uma vaga ideia de tratar de manhãs pacatas. A alvorada é de silêncio e todos os tons de cinza meio tristes. As árvores vizinhas tingem minha janela, as árvores vizinhas que reluzem verde molhado e formam condomínio para …
Montei minha casa, que não é minha, cheia de cores, objetos, plantas, perfumes, sabores. Janelas sempre abertas, som constante de conversas, música tocando e alguma coisa douradinha e borbulhante no fogão. Há variadas bebidas, dois colchões reserva, cachorro que sabe truques e mais de dezena de girafas. Recordações de viagens, presentes de amigos e muitos penduricalhos. Minha casa não é minha, …
As vezes fico escondida em casa. Aqui ninguém me acha. O cobertor é o manto da invisibilidade! Aprendi que quando a gente está muito triste, sem vontade de conversar, sem querer saber do mundo, é melhor se enfiar em casa. Porque ninguém tem muita paciência ou boa vontade com deprê alheia – há de se cuidar das próprias antes. Por isso, quando não …
A casa da minha infância não era a mais bonita da rua, não era a mais charmosa, nem a mais rica. Mas ela tinha detalhes tão interessantes que a transformavam na mais surpreendente – pra mim e para os vizinhos, naqueles bons tempos em que se tinha vizinhos… O lindo, vistoso e cheiroso pé de jasmim; a robusta roseira; um xaxim imenso; margaridas exibidas e …