literatura Arquivo
fui muito feliz nos outros lançamentos que fiz porque as pessoas generosas que tenho na vida não deixaram de me estender a mão. sacaram meu problema, minhas instabilidades, todos os meus dramas e trataram de me ajudar. precisei pedir ajuda de volta. as mesmas questões de sempre se somaram à irresponsabilidade de revelar em livro minha relação com os sete pecados capitais. com isso, juntei …
cada linha que escrevo é um solavanco na minha existência. haveria motivo para escrever se não fosse assim? não sei. só conheço isso. daqui a pouco, algumas viradas nos ponteiros, minha casa estará cheia de caixas. é o livro novo que se arrasta no asfalto para entrar aqui. e, como os outros que escrevi e provavelmente os que escreverei, caminhará em marcha lenta até conhecer …
um silêncio desaba em mim. ao mesmo tempo, sinto euforia de véspera. os caminhos dos últimos meses foram pelas vielas onde se acendem os faróis do próprio íntimo, os sentimentos, as reações. andei de cabeça baixa porque é assim que se faz quando a visita é aos defeitos. vícios. pecados. é possível que reassuma postura altiva, mas só porque me resta muito pouco diante do …
peguei o ônibus Curitiba-Lages, desci em Mafra e segui para Rio Negro, que, pelo que fiquei sabendo não tem mais rodoviária, mas deveria. o passeio pela cidade me fez ter vontade de pular do carro e seguir a pé, a subir e descer morros, atravessar as ruas largas, olhar de perto as flores e bater palmas em frente a uma casa qualquer para pedir um …
março, Paris. sentadinha no metrô indo pra Gare Lyon para pegar trem para Zurique a falar pelos cotovelos com Beatriz, mochila no chão, cachecol no colo. não via muita coisa além das pernas e bolsas das pessoas que estavam em pé na minha frente. mas volta e meia um friso se abria e de relance sabia de um homem sentado a uns três metros, frente …
esperava encontrar um rosto mais sincero, mais simpático, com os olhos um pouco arqueados e algumas rugas de um sofrimento existencial. acho que esperava um pouco mais de espelho. me arrependi de ter procurado foto na internet. quase não tive jeito de continuar a ler, porque aqueles olhos de gato, tão longe dos afetos que eu encontrava em sua escrita mansa, me tiraram a sinceridade …
tenho uns problemas quando fico nervosa. ou fico muda, estática, com o olhar parado num eterno flerte com meu pé esquerdo ou falo sem parar, qualquer coisa, principalmente aquelas que não devo. por causa da minha irmã, fui convidada para bate-papo com o Jaime Lerner no sábado passado, 27. público, microfone, câmera, perguntas, tudo que me apavora. aceitei porque tenho cá minhas vontades de superação …
treco difícil é fazer propaganda de si mesmo. se auto-elogiar é uma das mais desonrantes formas de dizer ao mundo a que veio. estou a sofrer dentro dessa maldita questão. publiquei livro. leio, acanhada, tímida e desconfiada, comentários positivos, publicações a enaltecer a obra, generosidades em mensagens. tudo isso é bom. perigoso, mas bem gostoso. sei que entre meus devaneios de independência figura a dificuldade …
agora que o modismo já empalidece e a onda de pseudo-críticos virou espuma, me sinto a vontade para falar. acompanhei quieta os embates públicos sobre os livros de colorir. algumas vezes achei graça de como acadêmicos das áreas de letras e sociologia, óculos na ponta do nariz, sobrancelhas erguidas e paletós com oval de couro nos cotovelos, trataram do assunto como se fosse o …
recebi recado do Sérgio Silva: “Adri morreu o Eduardo Galeano. Minhas veias estão abertas e sangrando. Estou esperando um texto daqueles que só você sabe fazer. Beijos” Sergio, a vida nos castiga. parece que as salmouras que derramamos todos os dias não são suficientes. ou que as chicotadas se apressam em castigar nossos pecados, até aqueles que não cometemos. sofremos. e, impressão, cada dia sofremos …