palavras Arquivo
para Francisco Mallmann não ficar à deriva mesmo quando não há direção, inventar que sabe para onde está indo e talvez até dizer para alguém ei, venha comigo. experimentar palavras diferentes para as normalidades dos dias e chamar de ventos, velas, naus o destino escolhido de cada um e talvez até ter coragem de pronunciar a palavra navegador ou timoneiro mais, ter coragem de falar …
fui muito feliz nos outros lançamentos que fiz porque as pessoas generosas que tenho na vida não deixaram de me estender a mão. sacaram meu problema, minhas instabilidades, todos os meus dramas e trataram de me ajudar. precisei pedir ajuda de volta. as mesmas questões de sempre se somaram à irresponsabilidade de revelar em livro minha relação com os sete pecados capitais. com isso, juntei …
tenho novo livro pronto. prontinho. coisa fofa, proposta cheia de estampas e texturas. tudo bem bonito. um tema que usei de subterfúgio para não me entregar a uma escrita maior que me assombra e me convida; me chama e me expulsa; me pega e me joga – tenho cá meus tribunais que acabam me impedindo de seguir. perdi o bonde da publicação de fim de …
boa de cama, é o que eu sou. descobri hoje. um amigo me contou que lê minhas croniquetas para a esposa, à noite. antes de acabar o texto ela já contou carneiros, pescou tubarão e embalou no sono. eu pensei em começar este post de um jeito diferente. com as duas primeiras frases e depois embalar num emaranhado de palavras que conduzisse a uma ideia …
é madrugada e estou na emergência de um hospital. longos corredores, faixa pintada no chão e silêncio de uma ala inabitada me fazem pensar em coisas. às vezes penso em algumas cores também. mas o que me ocupa mesmo são as coisas. embora sejam concretas, chegam de uma forma muito divagante se penso numa cadeira, por exemplo, ela flutua, abstrata e um pouco azulada no …
não me lembro quando fui apresentada ao Google. sei bem como me espantei. qualquer coisa?, qualquer coisa mesmo?. naquela época, eu não sabia direito do que se tratava; os conceitos de sites e de buscador eram um pouco confusos pra mim. passei a trata-lo como um enorme índice que me conduzia a páginas confiáveis, testadas e aprovadas. minha primeira reação ao seu canto de sereia foi …
na última porta do armário naquele lugar que não vejo não alcanço e não sei uma antiga lembrança. preciso das pontas dos pés dos braços estendidos do pescoço contorcido. preciso dos olhos atentos da alma lavada do olho comprido. revejo fitas, cartas, papeis descubro notas, correntes, anéis recupero fotografias, desenhos, pincéis. uma caixa cheia de vida entupida de pequenas mortes um baú de sonhos esquecidos …
não poderia ter acontecido em outro lugar, em outro dia, com outras companhias. não dava para ser diferente. até eu, que nego o destino e acho que cavo dia após dia minhas escolhas, tenho que dar a mão à palmatória e me redimir desse pensamento tão cartesiano. fui vítima do bom destino em toda sua glória e resplendor. lançar livro não é coisa fácil pra …
tenho frustrações. a mais pública, e talvez a mais confessável por ser menos feia, tem a ver com a música. nunca aprendi a tocar nada. sempre quis. mas faltou a disciplina necessária, dobrada, para uma sem talento como eu. todas as minhas tentativas tropeçaram, caíram e foram soterradas num buraco. estou para sempre ali na zerésima escala. e quando tento fugir, num único passo corro …
há qualquer coisa bem diferente no quartinho nas últimas semanas. minha facilidade com a escrita convidou o trabalho para uma longa dança e esqueceu que a música é um lance também, e principalmente, do prazer e de outras coisas que se parecem com ele. escorrego os dedos pelo teclado e em segundos sou absorvida por assuntos que não são meus, que se espalham em mim …