palavras Arquivo
recebi recado do Sérgio Silva: “Adri morreu o Eduardo Galeano. Minhas veias estão abertas e sangrando. Estou esperando um texto daqueles que só você sabe fazer. Beijos” Sergio, a vida nos castiga. parece que as salmouras que derramamos todos os dias não são suficientes. ou que as chicotadas se apressam em castigar nossos pecados, até aqueles que não cometemos. sofremos. e, impressão, cada dia sofremos …
tenho a impressão de que tudo que escorre para o papel é uma espécie de resquício de mim, um resto, vestígio de alguma dor ou alegria que finjo. mas, definitivamente, só finjo aquilo que sinto. talvez as palavras sejam como lágrimas. gotas que não são boas ou ruins, mas que são boas ou ruins. o eterno exercício da comunicação, a tentativa sem fim de dizer …
tenho vontade de escrever uma carta de mil linhas. e que nela os arrepios da pele, a boca seca, o tremor das mãos, as vontades, os receios e tudo aquilo que me percorre se transformasse em palavras. e cada palavra tivesse o poder da comunicação precisa, linha reta sem sinônimos ou mudança de interpretação. nessa carta, e só nela, eu usaria palavras sagradas, como sagrado, …
Cada vez mais as palavras me pegam pelo som, só depois a revelação dos sinônimos. Há palavras que adoro, mas que não têm significado bacaninha. A outras sempre atribuo um pensamento bom, apesar de saber de sua intolerância com o bem estar. Por exemplo, radicais livres. Assim, no campo sonoro, não consigo conferir-lhe maldades. Combater os radicais livres me parece uma violência. Outra, que …
teve uma época da minha vida que eu era louca por rimas, riminhas, podiam ser pobres, não obedecer métrica, não formar sentido, não comunicar com exatidão, não ter ritmo adequado. mas eu pensava em rimas. ainda bem!, isso passou. hoje quando vou construir alguma coisa e sinto que há necessidade de empilhar as palavras com alguma sonoridade que as combinem, penso mil vezes e se …
antigamente, quando a vida ainda seguia a marcha das ilusões, tinha dois medos: ficar sozinha e não escrever. o primeiro temor, nasceu quando nasci. de tanto provar da solidão e não encontrar sentido em fazer laços indissolúveis, a voz de fora passou a proclamar que vida desacompanhada era mesmo o estado natural de todo mundo, todo mundo do meu mundo. afirmei que a caminhada depende …
Eu queria muito escrever um poema de amor, que arrancasse suspiros do mais amargo dos corações, que fizesse o mais descrente dos homens sorrir. Queria poder riscar o papel com um sentimento tão puro que ele escorresse molhado, suado, vibrante em letras roucas e voz trêmula. Queria poder dizer do tamanho do meu amor e da dor da minha saudade e que isso fosse tão …
Tenho preferência por algumas palavras. A sonoridade em primeiro lugar, depois, bem depois, o significado. As vezes é possível juntá-las, noutras são andantes solitárias, passeantes na minha estreita gramática. Quando ouço uma que não conheço fico nervosa, tensão de vocabulário. Se invento, guardo-a no baú das ridicularias, sei bem que não sou Rosa. As minhas prediletas ficam ali, na classe dos substantivos. Concretas, abstratas, próprias, …
Alguns gostam de vatapá, outros preferem passear em veleiros. Estamos aqui reunidos no planeta azulzinho, a dividir o espaço, o tempo, a nos acotovelar por uma chance, por um momento. Perambulamos todos com olhos no espelho, no da frente e no retrovisor. Desviamos ameaças e plantamos árvores. As pirâmides continuam lá, erguidas, equilibradas e a água modifica os desenhos na areia da …
das cores que não gosto, a púrpura é minha preferida; dos hobbys que não tenho, nadar é o que mais me dá prazer; dos lugares que não conheço, Helsinki é onde me sinto em casa; dos restaurantes que nunca pisei, o Rules é o que faz a comida do jeito que gosto; dos banhos que não tomei, o inesquecível foi o de Oludeniz; dos instrumentos …