pequenos prazeres Arquivo
teve um tempo na vida que eu tinha muita disposição pela manhã. era meu melhor horário. tudo funcionava rapidinho. mesmo que as horas de sono tivessem sido magras ou que os sonhos acontecessem inoportunos, nenhum minuto a mais me era necessário. primeira providência sempre foi bater a mão sonâmbula no rádio. abria os olhos e a vida estava valendo. achava que tinha relação com meu …
vou passando pelo tempo recolhendo mimos e carinhos das pessoas que gosto e que gostam de mim. tudo se multiplica em formas diversas: canetas, bombons, telefonemas, sorrisos, abraços, jóias, bloquinhos, livros, atenções, beijinhos, emails, pratos, saladas, mensagens, músicas, almoços, cafés, hospedagens, bilhetes, lupas, lápis, pinceis… ganho paparicos de todos os tipos quase todos dias, gosto muito. as pessoas sabem como me fazer feliz… fui bem …
a considerar meu pacato modo de vida e minhas opções, não dá para me qualificar como um tipo consumista. mas tenho umas coisas que às vezes fogem do controle. acompanhe. fui passar uns poucos dias de repouso em praia longe de tudo que não conhece a palavra shopping. o comércio local fecha na hora do almoço, mesmo no auge da temporada. as lojinhas de ocasião …
estou a sonhar com os dias de Antonina. aqueles que passam calmos e duram muito, se alongam em minutos e giram preguiçosos no relógio. saudade do ar sufocante que de vez em quando é cortado por uma brisa leve que vem não sei de onde e some no sopapo do calorão que abafa, inibe, mata de tédio. tenho vontade de ficar naquela velha varanda a …
gosto do que faço. até quando não gosto, gosto. sentar na solidão do quartinho e batucar texto é uma tarefa cheia de pequenos prazeres. ainda que o assunto não seja lá dos melhores, há um certo contentamento em organizar as palavras, buscar combinações, cavar referências, tentar dar suavidade a alguma paúra de mercado, política ou social e mesmo assim mandar o recado. mas eu gosto …
vai funcionar assim: não paga nada para entrar, também não paga nada para beber um dos incríveis coquetéis da casa e nadinha para ouvir boa música. ninguém é obrigado a comprar livro e nem ficar a noite toda. liberdade é o outro nome do Dizzy na próxima segunda-feira, dia de lançamento do “Salve o compositor popular”. o livro tá bonito, tem arte do Mirandinha, caricaturas …
tenho frustrações. a mais pública, e talvez a mais confessável por ser menos feia, tem a ver com a música. nunca aprendi a tocar nada. sempre quis. mas faltou a disciplina necessária, dobrada, para uma sem talento como eu. todas as minhas tentativas tropeçaram, caíram e foram soterradas num buraco. estou para sempre ali na zerésima escala. e quando tento fugir, num único passo corro …
eu caminho. minha natureza é de pedestre, gosto de estar pra lá e pra cá na independência das passadas. quando viajo há mais prazer na atividade. caminhar sozinha pelo mundo tem umas características que não sei explicar em detalhes nem fazer analogias para o bom entendimento, mas as sinto com muita força. o grande prazer é que tudo é escolha própria. e essa autonomia é …
há um ano, eu passava pela deliciosa experiência de lançar livro. revi pessoas, conheci outras, amigos queridos apareceram e me fizeram sentir felicidade do tamanho do mundo. nem no sonho mais otimista eu pude imaginar que seria tão bacana. juro. mas antes dos vinhos, tive muitos e muitos tombos. foi uma prova de resistência conseguir chegar àquele iluminado 26 de novembro. explico. não achava possível …
parece que tudo vai oscilar entre 4 e 9 graus. dia curto, frio longo, tempo úmido. as folhas estarão naquele dourado outonal, na cor mais bonita, na reflexão mais viva da finitude. Magritte marcou um encontro. disse que me espera no Pompidou. um misto de medo e fascínio me ligam a ele. toda vez que o vejo preciso me esforçar para esquecer essa porção esquisita …