sentimentos Arquivo
não me movimento mais durante discussões. não porque me falte argumentos ou por preguiça de conta-los. acontece uma coisa comigo durante debates que procuro evitar. um monstro feio, louco de pedra, mora em mim. eu o nino com algumas delicadezas, ele adormece e fica lá, quietinho, quase morto, como se não existisse. mas quando provocado, quando tirado de suas profundezas, ele explode indomável, furioso, inconformado. …
tive uma noite de pesadelos, tremores, sobressaltos. imagens que se misturavam aos medos reais e iam me aterrorizando no sono ou a cada breve despertar. o estranho do ocorrido dessa noite difícil é que não conseguia ficar acordada por muito tempo. toda vez que recobrava a consciência, oscilava entre ficar desperta e sentir medo do que havia acabado de sonhar ou dormir de novo e …
os olhos parados de Alfonsina me incomodaram. não quero ter seus olhos, nem seu destino, nem sua loucura. não quero sua tristeza em mim, embora saiba que se a reconheço e a entendo assim tão nítida é porque ela já é minha.
Andávamos sem nos procurar, mas sabendo sempre que andávamos para nos encontrar. Júlio Cortázar animada e um pouco tensa com algumas providências, faço as malas. próxima parada Buenos Aires. dessa vez, viajo com minhas meninas. Lívia e Jéssica, uma em cada mão, para se espantar comigo com o que viveremos durante os próximos dias. é óbvio que andar pelo mundo é das coisas que mais …
um circuito de dois minutos (e as vezes de uma vida inteira). a saudade começa branda a pensar em beijo ou olhar ou música ou corpo. caminha um pouco nos complementos e chega a um destino que não existe mais e que mesmo assim faz parte do tempo em que se está. lentamente vai tateando, olhos vendados, um cantinho que deixou de ganhar raios dourados …
separação dói. sempre. dói quando planejamos, quando somos pegos de surpresa, quando queremos, quando não queremos. qualquer adeus é triste, até aquele que se anuncia lá longe, a dar pistas, a revelar sinais, formiguinha mesquinha que carrega mágoas de um lado para outro. o que está predestinado desde o primeiro dia. o que desaba em grande surpresa. acho que ninguém está pronto para a hora …
eu olho para o cão, quase uma década e meia de vida, e tudo, todos os significados estão ali. seu pelo branco, sua visão gasta, seu sono sem fim, seus olhos tristes, sua pouca empolgação para as coisas do mundo, seu entendimento sobre o que é importante. meu cachorro é o resumo do que somos nós, agora ou depois… mais difícil que perceber companheirinho de …
na semana que passou tivemos um problema grave por aqui. o irmão da Jéssica desapareceu. ele é um guri que tem contratempos nesse mundo tão diverso e mesmo assim tão mesquinho entregue à hipocrisia de que todos somos iguais, irmãos. o Mikael tem algumas dificuldades físicas e mentais. mesmo assim, dá a volta em sua síndrome e procura viver da melhor maneira possível. como eu …
pode ser que seja este o último dia da vida e eu, confusa, caminhe pela cidade a procurar a saída desta noite escura a testar todas as chaves no que conheço como única fechadura ou me jogue, sem rede, de toda esta altura de onde vivo, sem saber, a grande, irreparável, inconcebível, loucura. pode ser que seja este o último dia da vida e eu, …
ando tão distraída nas últimas semanas que perdi a aflição da escrita. tudo e nada me envolvem de um jeito que acabo em silêncio. invento histórias para as imagens que vejo da varanda, cada um dos vizinhos ou passantes tem um universo muito amplo a partir do meu olhar. cada um deve ter mesmo, mas as fantasias que me brotam vão além de suas realidades. …