solidão Arquivo
cada linha que escrevo é um solavanco na minha existência. haveria motivo para escrever se não fosse assim? não sei. só conheço isso. daqui a pouco, algumas viradas nos ponteiros, minha casa estará cheia de caixas. é o livro novo que se arrasta no asfalto para entrar aqui. e, como os outros que escrevi e provavelmente os que escreverei, caminhará em marcha lenta até conhecer …
“Suportar nossa parte da noite, saber levar nossa porção de noite, carregar nossa parte da noite, suportar a escuridão” Alejandro Zambra, sobre texto de Emily Dickinson e quando me olho no espelho não reconheço essas rugas que me sopram em linhas cada uma de minhas vitórias. e cada um dos meus fracassos. sou ainda uma menina. sempre serei uma menina. aqui, nesse lugar da noite …
pode ser que tenha sido aquele silêncio, grande e imenso, combinado com minha marcha em direção a lugar especial que me tenha despertado coisa nova. ou talvez apenas a rispidez daquele vilarejo belo e trancado nele mesmo, sem dizer um meio sorriso a quem é de fora. ou pode ter sido que o frio tenha promovido um curto circuito qualquer dentro de mim. não sei …
estou aqui, numa insônia sem fim, a pensar na vida e em meus caminhos movediços, sem saber se volto para sala e tomo mais uma taça ou se continuo na escuridão do quarto cortada por lua que já não é mais tão cheia. neste mundo de travesseiros e cobertas, suplico por um sono que não chega. dormir é melhor do que pensar. a noite que …
uma vontade recente me belisca. parece que nova quimera começa a brotar neste cabeção tão afastado das realidades: a caminhar aqui e ali a ideia de ter um antiquário. obviamente mais uma coisa a se juntar à minha vocação de pouca renda e sonhos múltiplos. comecei a procurar curso. não sei exatamente o que é necessário para tratar do assunto com competência, mas passei a …
não me movimento mais durante discussões. não porque me falte argumentos ou por preguiça de conta-los. acontece uma coisa comigo durante debates que procuro evitar. um monstro feio, louco de pedra, mora em mim. eu o nino com algumas delicadezas, ele adormece e fica lá, quietinho, quase morto, como se não existisse. mas quando provocado, quando tirado de suas profundezas, ele explode indomável, furioso, inconformado. …
a morte não deveria se apresentar numa rua, num poste, ponte, numa bala de revólver. nunca fria e soturna num quarto de hospital, numa UTI, com suas multidões de zumbis e médicos e barulhos de bips e luz cinza. o certo seria coroar a vida com um fim cheio de flores e perfumes suaves. de um jeito que o corpo fosse ficando tão leve, tão …
penso sobre solitários. não sobre a solidão, mas sobre aqueles que estão a tocar suas vidas a partir do íntimo deserto que todos vivem e poucos assumem. os clichês pintam uma série de quadros para falar dessas pessoas. solitários conversam com plantas. embalam suas samambaias com carinho e palavras. oferecem elogios, cantam músicas, dão de beber e adubam a companhia silenciosa, verde e condescendente. solitários …
tive uma noite de pesadelos, tremores, sobressaltos. imagens que se misturavam aos medos reais e iam me aterrorizando no sono ou a cada breve despertar. o estranho do ocorrido dessa noite difícil é que não conseguia ficar acordada por muito tempo. toda vez que recobrava a consciência, oscilava entre ficar desperta e sentir medo do que havia acabado de sonhar ou dormir de novo e …
estou a sonhar com os dias de Antonina. aqueles que passam calmos e duram muito, se alongam em minutos e giram preguiçosos no relógio. saudade do ar sufocante que de vez em quando é cortado por uma brisa leve que vem não sei de onde e some no sopapo do calorão que abafa, inibe, mata de tédio. tenho vontade de ficar naquela velha varanda a …