tempo Arquivo
nos últimos meses meu tempo está dividido de um jeito semirreligioso. em nenhum outro momento da vida lembro de limites marcados tão claramente. sou, forma imutável, 45% trabalho, 25% reforma da casa, 20% durmo, 10% me revezo entre ficar doente e me recuperar. a minha porção trabalho toma boa parte. passo horas e horas e horas em frente ao computador. não é monótono, só cansativo …
sempre tive problemas com o futuro. acho que tem relação com o número de compromissos que tenho, que sempre tive, no presente. comprometer o porvir é uma espécie de tortura para minha frágil existência. até coisas banais me deixam nervosa: agendar o cinema de sábado, o almoço na semana que vem, a festa de aniversário. na empolgação do momento, combino tudo e três minutos depois …
eu aprendi algumas coisas. me despedi de uns sonhos. renovei esperanças em novos pensamentos. fiquei incrivelmente grisalha. vivi Antonina, Buenos Aires, Florianópolis, Londres, Paranaguá, Zurique, São Paulo, Paris e, principalmente, os caminhos que me levaram a esses lugares. parei de tomar remédios. tive o carro roubado. colecionei novas marcas no rosto. aprendi a lidar com algumas contradições. cortei definitivamente umas pessoas da minha vida. publiquei …
estava bem frio. mais de meio-dia e o trubisco do telefone marcava três graus negativos. mas o iPhone não conhece os elementos, não sabe como a situação pode piorar muito longe da cidade. eu sentia um frio russo. não estava triste. ao contrário, passear pelos jardins de Versailles numa segunda-feira no meio do dia, na solidão das passadas, com sol azul e céu brilhante me …
gosto desses trovões que despencam do céu, rasgam o murmurinho da cidade com o estrondo que dispara o coração, silêncio de meio segundo, e fazem lembrar que tem roupa no varal, embora eu não tenha quintal. rápido, as janelas estão abertas. esse prenúncio de que a chuva cairá forte e logo estará a correr deitada, afogando meio-fio, lavando o asfalto. esse destino de cidade encharcada. …
sinto esse calorzinho de agosto. está no ar, nas flores amarelas dos ipês, no sol, na roupa de cama com uma coberta a menos. está na peça que há muito não desfila pelas ruas tirada hoje do guarda-roupa. está nesse humor que se renova e no Mozart que gira lindo, animado, allegro, mas não muito… gostoso poder esticar o corpo que estava todo atrofiado, encolhido …
amigos de casa e do auditório, tenho notícias. parecem boas. um tanto assustada com a conta de luz e inconformada com o lance de ficar batendo os dentes de frio dentro de casa, resolvi fazer um experimento a partir da dica da minha Vânia. a ideia partiu de um produto muito lindo, que não encontrei por aqui e como o inverno não sabe esperar todos …
não. as pessoas não são mais elegantes no inverno. eu não sou. o normal do visú quando estou em casa: pijama, com meia por cima da calça, pantufa, roupão e cachecol. as vezes touca. sempre puxando o aquecedor pela casa, como se fosse um cãozinho do qual não posso me separar de jeito nenhum. se estou a ler no sofá, imensa taça de vinho, que …
há alguns meses fiz um investimento numa loja de gente que se joga em altas aventuras. entrei, esquisitona e deslocada, em lugar especializado em produtos de alpinismo. comprei calça, meias, blusa e até cachecol para baixas, baixíssimas, temperaturas. alta tecnologia, me falaram. achei que eram providências práticas, inteligentes, duráveis e que não entulhariam guarda-roupa, malas e paciência. as tentativas iniciais aconteceram em dezembro, no inverno …
cheia de alegria e outras coisas me entrego a tão prazeroso ritual: faço as malas. domingo, 13, sigo para Paris. o tempo é de trabalho. e isso significa que é também de muito contentamento. gosto do que faço e gosto mais quando é na Europa. novo projeto. não tenho muitos problemas com roupas. geralmente uso a que cai primeiro do armário quando abro a porta, …