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pode ser que tenha sido aquele silêncio, grande e imenso, combinado com minha marcha em direção a lugar especial que me tenha despertado coisa nova. ou talvez apenas a rispidez daquele vilarejo belo e trancado nele mesmo, sem dizer um meio sorriso a quem é de fora. ou pode ter sido que o frio tenha promovido um curto circuito qualquer dentro de mim. não sei …
não tenho vontade de voltar para casa. mesmo. o frio, a crise, o medo e as ameaças europeias não são suficientes para mudarem meu humor a respeito do Brasil. a minha vontade é de me plantar aqui e comprar passagem de volta só para visitar alguns, ficar o tempo entre o amor e a saudade e retornar. sei que há problemas por aqui e eles …
sabe esses sites de notícias que perguntam se podem enviar notificações? pois então, vira e mexe, eles mudam a posição da resposta a que estamos acostumados. tempos atrás, estava a ler qualquer coisa, quando veio a pergunta. no gesto condicional pensei em ‘agora não’ e teclei em ‘permito’. desde então, meu trabalho é interrompido por informes que não me interessam e que me fazem perder …
há dias tenho pensado em Moçambique e Angola. tenho cá próprias motivações. e minhas obsessões. pesquiso passagens aéreas, lugares para ficar, faço roteiros, me imagino voando pelos céus africanos a contemplar mais de dois mil quilômetros entre um país e outro enquanto o piloto faz o avião voar baixinho só para eu ver aquelas paisagens com cardumes de girafas correndo. consigo pensar num safari botânico, …
uma vez, mais de 20 anos, fui a Piên. não conheci a cidade porque saí da minha casa e desembarquei direto numa madeireira, um lance que tinha relação com eucaliptos. daquele episódio lembro pouca coisa: vento absurdo que curvava árvores, chacoalhava janelas, e assobiava pequenos redemoinhos no chão; meu interlocutor era um homem com personalidade diferente, jogava a cadeira de diretor para trás em movimentos …
peguei o ônibus Curitiba-Lages, desci em Mafra e segui para Rio Negro, que, pelo que fiquei sabendo não tem mais rodoviária, mas deveria. o passeio pela cidade me fez ter vontade de pular do carro e seguir a pé, a subir e descer morros, atravessar as ruas largas, olhar de perto as flores e bater palmas em frente a uma casa qualquer para pedir um …
sentada na rodoviária. uma moça, mais ou menos 40 anos (sim, isso pra mim é moça): você vai ficar sentada aqui muito tempo? não entendi a pergunta, mas respondi que sim. quando não entendo as coisas direito sempre respondo que sim. e ela: você pode cuidar das minhas coisas para eu ir ao banheiro? com minha afirmação, porque não sabia o que responder, largou uma …
a considerar meu pacato modo de vida e minhas opções, não dá para me qualificar como um tipo consumista. mas tenho umas coisas que às vezes fogem do controle. acompanhe. fui passar uns poucos dias de repouso em praia longe de tudo que não conhece a palavra shopping. o comércio local fecha na hora do almoço, mesmo no auge da temporada. as lojinhas de ocasião …
estou a sonhar com os dias de Antonina. aqueles que passam calmos e duram muito, se alongam em minutos e giram preguiçosos no relógio. saudade do ar sufocante que de vez em quando é cortado por uma brisa leve que vem não sei de onde e some no sopapo do calorão que abafa, inibe, mata de tédio. tenho vontade de ficar naquela velha varanda a …
estava bem frio. mais de meio-dia e o trubisco do telefone marcava três graus negativos. mas o iPhone não conhece os elementos, não sabe como a situação pode piorar muito longe da cidade. eu sentia um frio russo. não estava triste. ao contrário, passear pelos jardins de Versailles numa segunda-feira no meio do dia, na solidão das passadas, com sol azul e céu brilhante me …