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março, Paris. sentadinha no metrô indo pra Gare Lyon para pegar trem para Zurique a falar pelos cotovelos com Beatriz, mochila no chão, cachecol no colo. não via muita coisa além das pernas e bolsas das pessoas que estavam em pé na minha frente. mas volta e meia um friso se abria e de relance sabia de um homem sentado a uns três metros, frente …
gosto de imaginar as pessoas. suas famílias, hábitos, comportamento, problemas, alegrias, soluções. uma sacola no metrô é pano pra muita manga. a conversa na mesa ao lado, as compras no carrinho do mercado, posição na fila do banco, número de papéis dentro da carteira. tudo é primeira pista para um vasto rio de fantasias que navego muda e em segredo sobre a vida alheia. hoje, …
“… Não é como a vida de Paris, digo, que é a mesmíssima coisa que estar a bordo de um transatlântico qualquer. É nas cidades pequenas que a gente descobre um país, naquele tipo de conhecimento que se adquire com os dias e noites sem importância…” (James Salter em Um esporte e um passatempo) vejo uma mesa com pintura em ouro; uma mulher de preto …
não tenho endereços em linha reta. quando estou a andar, sempre prefiro fazer o caminho mais bonito, mesmo que isso multiplique quarteirões. a beleza está solta por aí e colocá-la como integrante nos prazeres cotidianos é enriquecer a vida. fora de casa, em viagem, essa atitude é potencializada. parece que todos os sentidos estão trabalhando com mais força. detalhes mínimos de portas, história contada em …
um pouquinho de turismo. sabe as galerias de Paris? aquelas passagens cobertas que levam de um lado pro outro, da maravilha de cá para a maravilha de lá. a mais antiga delas, a Passage des Panoramas, faz ligações entre ruas do 2º arrondissement desde 1800. atravessa vias e séculos numa espécie de testemunha e personagem da história. muita gente boa, as gentes das artes; muita …
uma missa em latim o reflexo do rosto no trem o som do baixo, o jazz bombas em Bruxelas vento varre capim. menos uma hora em Paris ando descalça em Londres ouço a velha música o livro está sobre a mesa e a tragédia no jornal falso espanto da realeza. no relógio, o mesmo horário campos de trigo, de nada um avião, árvores secas, paisagem …
um dia sem escrita é um dia não vivido. um dia sem leitura não existe. escrevo e leio sem compromisso com o sucesso todos os dias, faz parte da vida. descubro, cada vez mais espantada, que minhas manias se estabelecem gritantes e me transformam num tipo esquisito. meu quartinho é meu santuário. quando saio de lá para trabalhar em outro lugar, retiro santo protetor e …
cheia de alegria e outras coisas me entrego a tão prazeroso ritual: faço as malas. domingo, 13, sigo para Paris. o tempo é de trabalho. e isso significa que é também de muito contentamento. gosto do que faço e gosto mais quando é na Europa. novo projeto. não tenho muitos problemas com roupas. geralmente uso a que cai primeiro do armário quando abro a porta, …
há alguns anos estava com Dé em Paris. era verão, muito verão. um calor cuiabano distorcia a paisagem e todo mundo procurava jeito de amenizar os 40 graus que vinham pelo ar, batiam no asfalto e aumentavam no andar. era dia de museu. pela terceira vez o Dé entrava no Louvre. eu, seduzida por um flautista que soprava ternuras no corredor externo do museu e …
quem são os donos das malas que dão mais de duas voltas nas esteiras dos aeroportos? por que a minha bagagem demora a eternidade para se arrastar deitada, ponta-cabeça, estrupiada e cansada até que me olhe aliviada? não importa o tipo de etiqueta, a cor, o número de fitinhas, identificação, recados. não importa nada!, minhas malas sempre chegam depois e inevitavelmente com um ar desmoralizado, …