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mergulho em Itapuã

tenho preferência pelos momentos. não consigo me ligar em grandes histórias, fatio-as sem dó nem piedade. levo na cabeça, sem princípio, meio e fim, apenas recortes de acontecimentos. minha memória funciona assim, feito lembrança de sonho. agora, sentada aqui no quartinho, ainda me inundo de Bahia. mas não de uma viagem inteira, de dias e noites ininterruptos de maravilhas. está em mim agora mergulhos em …

a fé, o sincretismo e o respeito – missa na Bahia

eu que sou ateia, a toa, a toda, pela primeira vez não ouvi a voz que narra o que meus olhos sentem. por algum tempo minha cabeça ficou muda, uma linha horizontal sem movimentos ou inquietações. novidade. fui à missa. sempre que posso dou uma espiadinha nos rituais. gosto. sinto inveja da fé alheia. dos momentos católicos, já vi aquelas maravilhas nas grandes catedrais europeias, …

pós-viagem

pode ser que eu não volte. é possível. mais. é provável. acontece sempre do mesmo jeito. os lugares que visito vão se acumulando em mim. chuvinha de influências, novidades, pensamentos, costumes, jeitos de ver e viver a vida. não que tudo me atinja de forma encorpada e definitiva, mas há traços mais fortes que me chamam a atenção e me modificam. nunca volto igual. nunca …

igbagbó

amarro fitinha do Bonfim no pulso, entro com o pé direito nas igrejas e faço três pedidos, penduro guias no pescoço, levo presentes à Iemanja. ando pela Bahia tomada por crenças, pedindo proteção e conversando com São Jorge. acredito em Caymmi, Vieira dos Santos e Gregório de Mattos. sim, creio em Jorge Amado, Carlos Coqueijo e Luís Gama.exalto os orixás, as baianas, os pescadores. decoro …

diante do Bonfim

gosto da onda baiana. me alegra o ritmo da fala, o olhar de malícia, os gestos que dizem mais. sobretudo, me causa muito entusiasmo esse viver que parte da experiência do prazer. o contrário de onde eu vim, em que o prazer é consequência de muita penitência prévia. a experiência de estar bem acima de tudo, de não negar o júbilo nunca, não é tarefa …

os santos todos

tempinho atrás ouvi Gustavo Proença declamar que “o mar é tão grande que dá pra deixar toda dor”. não duvido. olho para essa imensidão e não consigo imaginar o que não possa ser benzido, afogado, renovado aqui. nessa salmoura azul lanço rede para ver se puxo corações que escorrem perdão e borbulham amor. sufoco meus pés em espuma branca para que respirem os cochichos de …

magneto

de um tempo pra cá comecei a colecionar ímãs de geladeira. não de qualquer tipo, não de qualquer tema. lugares do mundo, esse é o argumento do que enfeita a lateral da gigante da cozinha. as cidades onde meus olhos descansaram e se alimentaram por algum tempo. gosto de as vezes sentar na banqueta e apreciar a vista. é uma imensidão bem aqui, diante dos …

luz acesa

tive pensamentos ruins a noite inteira. acordei de hora em hora. repassei teorias, alimentei o monstro, cheguei ao caos. quando estava perto do insuportável, era hora de levantar. o dia aconteceu. pelo viés da razão, meu atualíssimo problema é tão ingênuo quanto ridículo. quase inexistente. não há lógica simples que não o destrua. mas o negócio das teorias malucas, dos contornos psíquicos, dos laços entre …

na boca da noite

do lado esquerdo de onde estou, que não sei falar na precisão dos cardeais, faz uma noite muito negra, cravejada de diamantes celestes. agora pouco, um se jogou suicida. não tive tempo de fazer pedido, aquele que a gente guarda para esse tipo de momento. de qualquer maneira, uma estrela cadente deve ser indiferente o bastante para que meus anseios continuem. faz frio e o …

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