a impressão que tenho, às vezes, é que o ser humano não faz nada que não tenha como motivo final o sexo.
como os rios escorrem para o mar, a existência caminha para cópula.
mas fosse a obsessão em fazer, ou querer fazer, para desfrutar a maior parte da vida em prazer carnal, eu entenderia. ah!, como entenderia.
mas a sociedade é estranha. é formada por teóricos no assunto.
pior, teóricos da vida alheia. o que todo mundo quer, é saber com quem o outro se deita.
ao que tudo indica, causa mais prazer fofocar sobre as intimidades dos vizinhos de caminhada do que praticar as volúpias.
me causa certo espanto a necessidade de saber e falar sobre a vida sexual das pessoas. mesmo.
eu não tenho nem curiosidade nem vontade de colocar o assunto na pauta dos meus dias. mesmo. quem transa com quem não move meu intelecto.
igualmente não tenho interesse em saber das opções de gênero de ninguém.
não sei que nome dar a este voyeurismo, porque a excitação do praticante não está na observação das relações sexuais dos outros. a mixoscopia em questão acontece a partir do fuxico.
a falação dá tesão; o mexerico leva ao orgasmo – assim é o voyeur-fofoqueiro.
o que dizer sobre isso?
por que será que as pessoas gastam tanto fosfato para saber da vida sexual alheia, para inventa-la, comenta-la, para, de alguma maneira, vive-la?
o que acontece com uma cabeça que precisa, precisa mesmo, saber se fulano é gay ou se beltrano transa com cicrana?
sinto porcentagem de desprezo e porcentagem de pena por quem se apoia às coscuvilhices para garantir algum movimento à própria vida.
concordo com Caetano Veloso, nada pode prosperar.