a minha cabeça é uma biruta no meio de um tornado.
estou com uma série de problemas sobrepostos que não sei resolver. esta meada toda embaraçada e cheia de nós consome as minhas madrugadas.
durmo das dez e pouco da noite até umas três da manhã e depois fico caminhando por um labirinto que não acaba.
as horas passam por mim, eu passo pelos lençóis, o sol aparece e me levanto. no meio de tudo isso consigo fazer links inacreditáveis.
como a cabeça não aguenta, acho, ficar fixa em preocupações, espontaneamente salto de um lugar para o outro sem possibilidade de identificar as conexões.
agora pouco estava pensando o que fazer com esse acumulado de coisas que não quero deixar mas que muito provavelmente terei que abandonar quando a casa em que moro for vendida e eu me mudar. pensei também que talvez seja melhor me mudar antes da casa ser vendida.
isso significa que passeei por cômodos e armários, fiz listas, organizei gavetas, empilhei objetos – tudo com a força da mente.
não sei de que maneira, mas enquanto estava nessa levada, quase chorando, lembrei da Bahia. melhor, lembrei da minha vontade de Bahia; que me fez lembrar da foto que o Dé tirou e que virou capa do toda prosa; e depois de quando fiz um passeio com a Lívia pelo Farol da Barra e comemos caranguejo; e de que era muito bom ir passar o dia em Antonina; e que tenho que comprar óculos; e que preciso resolver o seguro do apartamento; e o que aconteceu com aquele vestido fúcsia?; e que está meio frio agora e eu guardei algumas blusas no maleiro; e que acho que não levarei todas quando a casa for vendida e eu tiver que me mudar; e que talvez fosse melhor me mudar antes da casa ser vendida.
nem conto mais porque isso é tão nonsense, que se estivesse relatando um sonho talvez encontrasse a lógica aristotélica mais facilmente.
o fato é que tenho passado boa parte das minhas madrugadas assim, dançando entre a realidade, os medos, algumas lembranças, ideias absurdas e maluquices sem fim.
a terapia me ajudava a me organizar, situava meus pensamentos, trazia um eixo que me segurava até quando eu sacolejava muito.
hoje, muda, sem possibilidade de conversa, pareço mesmo um catavento girando transtornado.
transtornado.
(trans: prefixo que indica através; além de + tornado: vento violento; ciclone, furacão – pensei nisso agora, não tenho absolutamente nenhuma, nenhuma!, base linguística para essa palhaçada).
para tentar me estruturar, às vezes, como agora, escrevo.
um dia desses fiquei satisfeitíssima com um texto. guardei-o. e atestando que tudo se multiplica de um jeito descompensado dentro de mim, publico este emaranhado.