um lugar perdido no tempo

tantas semanas sem ir à feira. última vez, o Natal nem era passado.

pois bem, vestida com as armas e as roupas de Jorge me mandei para tratar da vida ao ar livre.

a rotina é basicamente a mesma. percorro o L em passos lentos, ouvidos atentos, olhar curioso. tudo me interessa. e acho que justamente por isso, me distraio com facilidade.

o passeio de hoje não foi demorado. menos de uma hora para o circuito, as compras e a volta.

a feira tem seduções impossíveis de resistir.

fraquejo diante da barraca de pastel e fraquejo tanto que não me importa a promessa feita na segunda-feira passada e nem as novas publicações sobre os males das comidas desses tempos, eu me entrego sem pudores, sem reservas, sem pensamentos, sem censura.

fico encantada com os casais septuagenários em seus passinhos lentos, o olhar de outra época, o sossego,  reservas e cuidados com as compras.

me faz sorrir pais que levam os filhos para a praça e folheiam jornal. um olho no peixe outro no gato, enquanto as crianças se esbaldam em brincadeiras de outros tempos: pés no chão, correria, gargalhadas.

gosto de ouvir o papo de antigas amigas que se encontram na frente da barraca de pamonha e colocam em dia 15 anos de conversa, atualizam as novidades e se prometem encontro em breve.

diante do trailer de peixes, todos trocam receitas e ouvem, atentos e interessados, sobre pescaria de 1987 de um cliente que conseguiu uma garoupa de 40 quilos.

a feira-livre é uma conquista da civilização que se mantém e enfeita a humanidade; as derrocadas de relacionamento, as pressas contemporâneas, os pavios curtíssimos dos dias de hoje não têm vez naqueles metros. não sei explicar os motivos, mas é assim. lugar em que mais existe gentileza na terra, ninguém economiza sorriso, não há esconderijo para os pequenos e anônimos mimos: um pedacinho de abacaxi, uma provadinha de melancia, um pouquinho de bala de coco, queijo, pão, curau, uva…

a vida vai passando entre cortesias, delicadezas e belezas. como deve ser um domingo de manhã. melhor que isso, só música de Tom Jobim.

– e eu, ainda tenho a sorte, a grande sorte, de ter o olhar da Iara a me acompanhar no passeio de domingo.

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não dá para acreditar que a Iara Teixeira mora no 16º andar…

 

quer comentar? não se acanhe.

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