levei minhas angústias e dúvidas para passear.
estava um tanto cansada de precisar chegar logo em casa para pensar em silêncio nas minhas questões.
também já não dava mais para negar todos os convites para poder sentar na sala e olhar para a parede.
agarrei, um por um, todos os meus problemas. não os separei em compartimentos, não escalei prioridades, “primeiro você, que é mais velho” ou “aguarde na fila até ser chamado”. não. enfiei todos numa bolsa de pano e parti.
os problemas são tímidos quando estão fora de casa. não ficam falando o tempo todo. eu já sabia.
eles preferem manter um tipo de comportamento cordial, aparecem se são chamados, depois, partem e se escondem tão bem que é quase impossível sabê-los.
andei sozinha, nua e descalça pelas ruas de Lisboa. era como se não existisse nada nem ninguém além de nós duas, a cidade e eu.
sem o ciclone, que nos dias iguais gira impiedoso na minha cabeça, eu fui pluma flutuante. escorreguei por travessas e vielas, praças e ruas. andei em silêncio e desacompanhada.
os problemas não gostam de viajar.
eu curto.