Arquivo Mensal: maio 2015
logo eu que sou Antonina até debaixo d’água tive imenso dia em Morretes. coisas do trabalho, coisas do prazer. me mandei pelas curvas da Graciosa a procurar as belezas que me causam atrás da espessa cortina branca que, véu de algodão, cobria todas as camadas de verde. tenho cá minhas desconfianças que foi por conta dessa serração que a Etel não teve ânimo para a …
eu e meus amigos estamos a ficar velhos temos todos, eles e eu, cabelos brancos vontades próprias, passado numeroso e algum problema nos joelhos os meus amigos e eu aprendemos algumas coisas e nos entulhamos de fotografias nós não confiamos mais na memória mas nos damos ao luxo de decorar poesias todos nós temos mais passado que futuro e a morte nos ronda e a …
no final da manhã de hoje, Lívia postou uma foto minha no Facebook com a legenda: “o domingo da minha mãe”. a estampa em questão é esta, aqui publicada. no decorrer da tarde vi alguns comentários, mas não tive jeito de largar o livro para respondê-los. e o domingo da mãe da Lívia envolveu outras atividades também, como dormir, fazer coisas na cozinha, falar com …
nem queria dizer nada hoje. mas o texto tem dessas coisas, é preciso preocupação com a função. e isso não é bom. quiçá fosse permitido um texto só pela beleza, só para guardar as palavras de minha preferência. coisa de venustidade sem estar de mãos dadas com o sentido. uma intimidade de pronúncias e dos desenhos que elas fazem no papel ou na tela ou …
“…E o operário disse: Não! E o operário fez-se forte Na sua resolução…” (O Operário em Construção, Vinícius de Moraes, 1959) ia fazer uma reclamação pública. a pensar sobre a situação, mudei de ideia. me encolho e me presto apenas à narrativa. cada um tem que saber do seu lugar. difícil, mas sei do meu. recebi três convites. novos trabalhos. por partes. o primeiro …
tenho vontade de pedir perdão. de estender os olhos até onde meus pecados alcançaram e curvar-me pelos erros. não quero penitência, só o perdão mesmo. puro, simples, humílimo. e este perdão deveria caminhar até o futuro onde certamente minhas imperfeições continuarão a dançar. sei de alguns erros desde seus nascimentos. mas os insisto. deixo-os que pulem, que se transformem em ação e que façam os …
há alguns anos tive um problema doméstico sério. minha máquina de lavar simplesmente não dava sinal. imersa num sono profundo, não cedia aos meus apelos. conversei, chacoalhei, empurrei, rezei e nada. nenhum sinal. preocupada com sua saúde e meu bem estar, chamei o técnico. como era de se esperar nesse tipo de ocasião, o tempo era de vacas magras. e de inverno. o inesquecível seu …
apesar de tudo, estou aqui as notícias do jornal o desamor o desencontro as fotos antigas as lembranças de outras épocas e estou aqui os acidentes as bombas a fome a seca a miséria e estou aqui os grilos os astros as telenovelas a desistência os cabelos brancos e estou aqui a insônia os óculos de sol a chuva a monotonia a solidão e estou …
obra no prédio. acontece lá nas profundezas da garagem. a impressão é que se trata de coisa aqui no apartamento. mais, aqui no quartinho. uma britadeira que não perde fôlego nem por cinco minutos batuca o chão desde as primeiras horas. pelo andar da geringonça suspeito que já alcançamos água, petróleo, viajamos por todas as camadas e agora estamos lá no núcleo interno da Terra, …
a vida sem filhos deve ser mais silenciosa, ter mais grana, mais tempo e viagens diferentes. provavelmente, a vida sem filhos não deve ter quilos de roupas para lavar, louça em cima da pia e decoração lúdica na casa. é possível que a vida sem filhos não exija refeições na hora certa, bolos no final de semana e idas infinitas ao mercado. eu não sei. …