quando eu era criança, uma mulher na casa dos trinta anos já estava passando do ponto. ponto de quê? sei lá, de namorar, de casar, de procriar, de qualquer coisa que era apenas permitida às mais jovens. em vez de estar “no ápice poético da vida”, como descreveu Balzac em “A mulher de trinta anos”, na minha infância uma balzaquiana estava condenada, como se isso fosse ruim, ao não-casamento.
lembro de frases pejorativas a respeito disso.
quando minha mãe tinha 40 e poucos anos, eu achava-a tão velha… não na aparência, porque sempre foi muito bonita, mas na contagem do calendário. minha cabeça não sustentava a ideia de que com quatro décadas nas costas uma pessoa ainda estava a esbanjar saúde, jovialidade, aventuras, planos.
50 anos, era fim da linha mesmo. idade eterna de avós.
meu entender sobre o número de aniversários era bem estranho. eu só tinha cinco anos e isso deve explicar… se hoje eu pensar que alguma pessoa no mundo tem dez vezes a minha idade, de fato, será caso para estudo científico. igualzinho eu pensava quando tinha cinco anos…
hoje, ontem, no meio de risadas, taças, pãezinhos, canudinhos de maionese, patês e toda sorte de guloseimas estive a falar e ouvir mulheres maravilhosas. todas. muitas conversas e histórias, muitas vivências parecidas e distintas; problemas contados entre sorrisos; dificuldades reveladas com a graça das espontaneidades; diversões multiplicadas; lembranças e combinações futuras.
voltei pra casa repleta de bem querer, com uma imensa gratidão pela Rogéria proporcionar este encontro e a pensar que todas nós, na verdade, temos uma única idade. somos todas, o tempo todo, mulheres de 20, 30, 40, 50, 60, 1000 anos. cada uma de nós carrega a valiosa bagagem dos saberes das experiências e isso não tem número que defina.
ah! e somos também todos os signos do zodíaco.
obrigada, meninas.