latim em pó

Dizem por aí que a Língua Portuguesa tem 500 mil palavras, com variações para mais ou para menos, sem margem de segurança. Num piscar de olhos ou num dedinho de prosa novas surgem para nos dizerem alguma coisa que ainda não foi dita ou para novidades em nosso cotidiano e aos poucos, em gerúndio, vão engrossando o caldo do vocabulário.
Também corre por aí a informação que uma pessoa com nível médio de instrução (que não sei dizer o que é exatamente) utiliza cerca de 1500 palavras em sua coleção particular de comunicação.

Pois bem, otimista, partirei do princípio que conheça e use as tais 1500.
As vezes consigo, sem ferir os mestres da Língua, reuni-las em sequência, as vezes não, e isso é grave. Procuro prestar atenção nas concordâncias, mas tem dias que alguma coisa me escapa, e isso é gravíssimo. Tenho ao alcance das mãos alguns dicionários para consultas e a ajudinha camarada dos corretores de texto, ainda assim, de quando em vez, escrevo errado, e isso é pra lá de gravíssimo.

Um tempinho atrás mandei cartinha pra minha amiga Letícia e lá pelas tantas pedi que ela me ajudasse com algumas coisas para que eu “pudesse dar os primeiros passos”, escrevi paços. Paços, com cedilha, como a corte! Que vergonha, que tristeza! Logo pra Letícia que é craque em nossa rica e surrada Portuguesa…
Além de saber tudo do idioma, é pessoa gentilíssima. Nada disse, não fez comentários e quando eu acusei o vexame, tratou de amenizar como se aquele fosse um tipo de equívoco tolerável. Não, não é! Passarei o resto da vida a me chicotear por ter escrito errado para Letícia. Pô! Dum universo de 500 mil, uso 1500 e mesmo assim consigo errar? Deveria ser caso de polícia. 

Nessa semana, toda serelepe, contava aqui no blog de minhas aventuras domésticas e tasquei de novo passos com cedilha. 
Mas será o Benedito!? Ora bolas!, se sei que o lance se escreve com ss por que cargas d’água essa obsessão pelo ç? Dislexia ou psicologia?
Isso desmoraliza, humilha, envergonha! Assim, minha Língua nem de longe roça a de Camões, se continuar nessa balada não terei o grande orgulho de pertencer à mesma família de Pessoa, Drummond, Machado, Braga, Bandeira…
Serei deportada lá para o universo de “Orora Analfabeta”, da criação de Gordurinha, e passarei a escrever gato com j e saudade com c…           


Eu arrumei uma dona boa lá em Cascadura
Que boa criatura mas não sabe ler
E nem tão pouco escrever
Ela é bonitona, bem feita de corpo
É cheia da nota
Mas escreve gato com “j”
E escreve saudade com “c”
Ela disse outro dia que estava doente
Sofrendo do “estrombo”
Levei um tombo… Cai durinho pra trás
Isso assim já e demais
Ela fala “aribu”, “arioprano” e “motocicreta”.
Diz que adora feijoada “compreta”.
Ela é errada demais!
Vi uma letra “O” bordada na blusa
Eu disse é agora
Perguntei seu nome ela disse Orora
E sou filha do Arineu
Mas o azar é todo meu

quer comentar? não se acanhe.

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