chegarei ao terceiro aniversário morando em outra casa.
desloquei minha vida inteira porque queria uma experiência integral, concentrada. queria o estranhamento e a descoberta.
queria jogar fora algumas coisas, desprezar outras e respirar sem medo.
eu queria respirar sem medo.
respirar sem medo.
neste percurso gastei os dinheiros nas inexperiências inúteis, me perdi nos labirintos das leituras, conheci a rejeição e experimentei o abandono em seu lado mais perverso.
virei páginas.
recebi sorrisos e mãos estendidas, ajudas inesperadas, paciência em explicações do básico. reconheci amigos, pares, cabeças. fiz laços e nós.
vivenciei descobertas e aprendi para sempre a felicidade do estranhamento.
desta aventura louca, meticulosamente mal calculada, detalhadamente mal planejada, particularmente mal concebida, sobrou-me o valor do sonho de um mundo sem fronteiras.
aqui é um espaço em que me encaixo e me estranho o tempo todo.
tenho o entendimento sobre os significados extraordinários dos gestos de quem permite a saída e quem acolhe a chegada.
às pessoas que permitiram minha partida e às que ampararam a minha presença, entrego minha gratidão e minha dedicação.
às outras, um pouco de desprezo e muito de malquerença – não faz parte de mim a tolerância ao intolerante. preciso respirar sem medo.