o problema de ser sensível

sou uma pessoa sensível. há maravilhas nesse traço. possibilidades que se multiplicam todos os dias ao ver uma flor, um sorriso, uma poesia. até um poste, que não é nada a outros olhos, se transforma numa fonte de especulação, reflexão e comoção. gosto disso porque minha vida fica mais rica. eu acho. é uma coisa bonita minha, autoelogio.

conheço as delícias. as dores também.

nem tudo é cor de rosa pra quem vive nesse signo. e quando a cor muda, um pesadelo poderoso desce feito uma nuvem muito espessa, que não permite nada além do sofrimento.

um desses maiores momentos, é o medo de morrer. não da morte propriamente dita, mas de morrer. a certeza de uma coisa que não quero cresce em mim como se fosse fogo num canavial muito seco. quando percebo, estou envolvida de depressão por todos lados. sei que estou a morrer, todo mundo está. todos os dias o corpo vai ficando mais velho, o tempo mais curto, a reta mais próxima do final. e essa existência assim, sem explicação nem sentido, como se fôssemos todos apenas uma flor que nasce, cresce, colore e morre, sem mais nem porquê, me desespera. há tanto para fazer, ver, conhecer, viver. o mundo lá fora me diz de caminhos a serem descobertos e percorridos – os invento quando as revelações falham.

a consciência inolvidável da morte rege o meu jeito de tratar os dias. nos momentos melhores, tenho certeza que o meu tempo é hoje e trato de fazê-lo o melhor possível, dedicando a mim mesma o que quero nessa fração do agora. as formas de prazer mudam conforme o calendário avança, mas a motivação de desfrutar das horas, não. quando os dias são difíceis o exato lado oposto me pega; fico imóvel, nada me alcança e demora para eu sair dessa ciranda sem música, abismo de queda em espiral.

é um tormento isso. ser sensível cansa.

sensibilidade

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