foi uma aventura.
gosto de experimentar que a faixa de idade para correr riscos, correr mundo, correr perigo não existe.
no dia em que decidi que iria embora de Curitiba, minha vida estava transbordando de idades e de problemas.
disse adeus e enfiei livros, discos e sapatos na mala e fui para o aeroporto.
nem a pandemia, nem as máscaras, nem o medo me impediram.
eu tinha também muito amor.
no meu percurso eu lancei livro; fiz mestrado; passei no doutorado; trabalhei onde quis; montei oficina de escrita; apresentei programa de rádio; criei espetáculo de teatro; aprendi sobre lugares e pessoas; aluguei casa; escrevi dois livros; desenhei; comecei a bordar; conheci vinhos; realizei muitas coisas.
realizar, origem no latim: real + -izar.
o real, nesse caso, é de Vila Real, minha vilã de estimação.
ontem, quando parte da minha mudança foi trancada no papelão duro da transportadora, tive vontade de chorar.
e chorei.
o fim dessa etapa da vida está próximo, pensei com uma lucidez rara.
a minha dança de apego e desapego, dois pra lá, dois pra cá, é mesmo muito intensa e vivida nas últimas consequências: de repente, tudo pro alto e toca marchar a partir do começo.
sozinha, um pensamento depois do outro, caminhei pelo substantivo feminino singular aventura.
foi uma aventura, singular, feminina.