faxina Arquivo
mudei de casa. faz uns dez dias. ainda não me acostumei e vira e mexe ando para o lado errado quando quero ir até à cozinha. chego e abro o armário errado para pegar copo e nunca sei onde está o pratinho para bolo. fiz bolo. três em uns dez dias. acho que é porque não tenho panelas e às vezes penso em algum tipo …
aprendi com a Niu que existe uma coisa chamada ‘correição’. tem relação com formigas. elas reúnem exército, formam tropa, agrupam-se e marcham obstinadas. escolhem objetivo, que normalmente é um lugar. com o alvo na mira, não há obstáculos. entrarão e tratarão, piso ao teto, dos males e pragas que encontrarem pela frente. acabam com aranhas, insetos e todo o tipo de inutilidades que nos tiram …
na última porta do armário naquele lugar que não vejo não alcanço e não sei uma antiga lembrança. preciso das pontas dos pés dos braços estendidos do pescoço contorcido. preciso dos olhos atentos da alma lavada do olho comprido. revejo fitas, cartas, papeis descubro notas, correntes, anéis recupero fotografias, desenhos, pincéis. uma caixa cheia de vida entupida de pequenas mortes um baú de sonhos esquecidos …
não sou pessoa caprichosa, prendada, rica em detalhes que transformam o lar num ambiente organizado e funcional. a desordem da minha cabeça não permite. se aqui em casa eu fosse buscar uma imagem que me representasse ipsis litteris abriria uma das portas: guarda-roupa, lugar dos potinhos de plástico, geladeira. tudo confuso e cheio de coisas inexplicáveis. é assim que sou, não me orgulho. sábado, movida …
passei boa parte da tarde/noite de sábado a arrumar tranqueiras em casa. um cômodo. um milhão de coisas. o quarto que foi do Dé estava se transformando numa imensa sala de jogos. Lívia e eu abríamos a porta e jogávamos tudo quanto é tipo de tranqueira ali. não havia mais condições de trânsito. nem de parada. me enchi de coragem, puxei fôlego, arregacei as mangas …
ensaio a troca do sofá, poltronas, baú e mesinha da sala. todo mundo está comigo há mais ou menos uns 20 anos me acompanhando pra cima e pra baixo em diversos espaços e composições. gosto dos móveis e de como se espalham por aqui, mas gosto mais ainda de tudo que me lembram. são testemunhas da minha história. criados-mudos de outros formatos que observaram tudo …
acho que há qualquer coisa de sublime na louça de domingo. diferente daquela empilhação de pratos e copos e talheres e travessas e panelas e xícaras dos vulgares e corriqueiros dias. no domingo a louça é mais elegante, tranquila, surpreendente. é a mesma dos outros seis da semana, mas o humor muda e ela representa mais. se meus pratos falassem, de segunda à sábado, diriam …
não que eu tenha mãos de princesa ou que não possa fazer serviço pesado, mas passar a sexta-feira à noite a limpar os cinco andares do prédio mais a portaria e mais o meu apartamento foi meio demais. o caso se deu por conta desses fenômenos estranhos que acontecem na minha área de serviço. para resumir a novela, toda a água do mundo saiu do …
tenho um marido. ele é temporário, aparece e desaparece num estalar de dedos. cobra pelas visitas. quem me apresentou o dito cujo, em outros carnavais, foi a Renata, que também aproveita de seus serviços. nessa semana que passou, decerto inspirada pelas obras no prédio, fiz uma lista imensa de pequenas coisas que precisavam de atenção aqui em casa. a vistoria começou na área de serviço …
acordei com o fim do mundo, fiquei tão assustada com o furdunço que achei que a única providência era me enfiar no roupão e sair. ainda tive tempo de pensar que não seria nada bom continuar com um pé de meia amarelo e outro azul e fui procurar par gêmeo. no meio do caminho, sonada, entendi: depois de mais de dez dias parada, a obra …