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eu caminho. minha natureza é de pedestre, gosto de estar pra lá e pra cá na independência das passadas. quando viajo há mais prazer na atividade. caminhar sozinha pelo mundo tem umas características que não sei explicar em detalhes nem fazer analogias para o bom entendimento, mas as sinto com muita força. o grande prazer é que tudo é escolha própria. e essa autonomia é …
parece que tudo vai oscilar entre 4 e 9 graus. dia curto, frio longo, tempo úmido. as folhas estarão naquele dourado outonal, na cor mais bonita, na reflexão mais viva da finitude. Magritte marcou um encontro. disse que me espera no Pompidou. um misto de medo e fascínio me ligam a ele. toda vez que o vejo preciso me esforçar para esquecer essa porção esquisita …
estou aqui, paciente e emocionada, num chá de cadeira de aeroporto. quem espera avião chegar não tem tomada para carregar os apetrechos. me distraio facilmente com o movimento e isso mantém o livro fechado dentro da bolsa. eu gosto de ver as pessoas chegando. acho bonito. sorriso, abraço, início de falação. na minha permanência todos os voos vêm de São Paulo. mas eu sei, as …
quando eu era criança queria crescer. só isso. meu sonho era ser adulta. ser adulta para poder ser o que eu quisesse, tipo caminhoneira ou carteira. se for ver bem, desde pequena o que eu queria mesmo era ser livre. na minha cabecinha, gente grande só fazia o que bem tivesse vontade. sem regras, sem ordens, sem amarras. eu queria mesmo era cuidar do meu …
não dá para ficar. eu não consigo. é da minha natureza ir, seguir, sair. sim, é também voltar. nesse ano visitei Paris, Zurique, Londres, Antonina, Paranaguá, Buenos Aires… por conta do movimento, perdi o verão. caminhei contra o favorito, a terra girava pra um lado e eu a andar para outro. casacos, calças e meias, muitas meias. chuva, frio e todos os tons de cinza. …
estou a viver em dois tempos, hoje e ontens. todos os dias olho para o aplicativo do Facebook para descobrir o que eu estava fazendo há um ano, há dois, três, quatro anos. retiro a coberta do tempo e descubro minhas memórias. é um exercício interessante lembrar precisamente do que me acontecia em datas específicas, que construíram páginas importantes da vida. meu diário virtual é eficaz. …
amanhecer em Antonina é como despencar do sonho para uma realidade onírica. tudo passa de um jeito diferente e eu reafirmo a certeza de que a vida é mais, muito mais, da que alcança meu cotidiano de cidade grande. acho graça em ouvir galos preguiçosos que cantam para a chegada do dia. são expertos, esperam que o sol esteja alto no céu para começar a …
os olhos parados de Alfonsina me incomodaram. não quero ter seus olhos, nem seu destino, nem sua loucura. não quero sua tristeza em mim, embora saiba que se a reconheço e a entendo assim tão nítida é porque ela já é minha.
Andávamos sem nos procurar, mas sabendo sempre que andávamos para nos encontrar. Júlio Cortázar animada e um pouco tensa com algumas providências, faço as malas. próxima parada Buenos Aires. dessa vez, viajo com minhas meninas. Lívia e Jéssica, uma em cada mão, para se espantar comigo com o que viveremos durante os próximos dias. é óbvio que andar pelo mundo é das coisas que mais …
estava aqui a fazer contas. não sou nada competente com grana. quando não estou na pindaíba de vender o almoço para comprar o jantar, faço as refeições em restaurantes caros sem me preocupar com o amanhã. jogo no time do tudo ou nada. nada. de susto em susto, comecei a ficar aflita em ser do jeito que eu sou. resolvi fazer umas mudanças. cortar zeros …