a considerar meu pacato modo de vida e minhas opções, não dá para me qualificar como um tipo consumista.
mas tenho umas coisas que às vezes fogem do controle.
acompanhe.
fui passar uns poucos dias de repouso em praia longe de tudo que não conhece a palavra shopping. o comércio local fecha na hora do almoço, mesmo no auge da temporada. as lojinhas de ocasião não são atrativas, nem de longe entram na disputa de estar de frente pro mar ou estirada ao lado da piscina ou caminhando pela orla ou entregue à leitura. a natureza de descanso é a melhor alternativa.
mas…
em meus poucos dias e quase sem opção de comércio, consegui fazer o que não fui capaz em nenhum dos grandes centros que visitei nessa vida.
minha irmã, que sabe das minhas preferências, tratou de providenciar uma visita a um antiquário. quem diria que tem antiquário numa cidadezinha de apenas um semáforo?
pois foi lá que encontrei um amor antigo, uma vontade de outros tempos, uma preciosidade toda valvulada e funcionando.
atende pelo nome de radiola = rádio + vitrola. data do final dos 1950. toda inteirinha, moderninha, cheia de charme e possibilidades.
num estica e puxa, aperta e solta, forra e ajeita, colocamos a geringonça no carro.
levamos a dita cuja para apreciar a praia, para jantar no restaurante da Barra, para ver o temporal de fim de dia e para, finalmente, nos acompanhar pelos quilômetros pedagiados até minha casa. subiu de elevador, toda fresca.
mas antes disso, no mesmo antiquário, uma panelinha, uma linda e perfeita panelinha sorriu pra mim. sem pudores, tirei sua tampa e entendi o recado: ideal para caldeiradas, feijoadas e outras adas ou nadas que rolem por aqui.
e na mesma ocasião pude aumentar minha coleção de postais escritos, enviados, recebidos.
depois disso, mas antes da radiola, outra panela. própria para molhos, para olhos. e chega de trocadilhos.
e no meio do caminho, 18 taças de cristal, todas da Hering que não existe mais. e tapetes. e meias. e faixa para o cabelo. e óculos de camelô. e outro vestido preto.
sem que eu percebesse, meus dias de descanso se transformaram em turismo de compras. troféus no meio da bugiganga…