escrevi um dicionário

há muitas primaveras ganhei uma agenda telefônica do tipo bem grande, caberiam mais nomes e números do que gente que conheço.imediatamente a corrompi a uma função particular: anotar explicações, frases, conceitos que encontro em livros, artigos e outros que leio. um exemplo. na letra S, há especificações para silêncio, sintomas, saúde, sofrer et cetera. um exemplo melhor, entre as anotações da letra S está:“SOLIDÃO: ‘A …

escrever caquis

escrever, essa coisa maluca que me faz querer estar só, revirando meus baús e tribunais, introspecta, inventando palavras, me recolhendo em lugares que jamais serão acessados para depois ficar feito doida, procurando pessoas, querendo diálogo, suplicando por trocas…escrever é desequilíbrio, é este andar desengonçado pela vida, é não conseguir tirar um caqui do pé sem pedir licença, sem pedir desculpa, sem imaginar quantas pessoas no …

um cesto de alegrias de quintal

vi tantos espetáculos em minha vida que não conseguiria enumerá-los ou mesmo destacar aqueles que me tornaram diferente. compromissos profissionais, por anos, me fizeram estar com a programação cultural em dia. as coisas da amizade me despertaram a vontade de compartilhar o olhar de um ponto de vista diferente. os prazeres de sentar e ouvir/ver me empurraram para léguas de horas em auditórios dos mais …

livro novo

publiquei livro novo. é provável que esta frase seja a que mais gosto de escrever. a que me dá mais prazer e a que me garante levantar o queixo na linha do horizonte, puxar o ar e sorrir feliz. eu publiquei um novo livro. não consigo tratar disso de um jeito blasé. ou na naturalidade do feito porque escrever é o que eu faço. meu …

o rádio e eu

tenho aquele amor louco pelo rádio. uma coisa que não passa, que não termina, que não muda. mesmo quando estou distante, tratando da vida de outras formas e me ocupando do expediente de ouvinte, ouço como quem vê o avesso. faço questão de me perturbar com vinhetas mal feitas, encontrando as possibilidades de melhoria. persigo os volumes não normalizados no Sound Forge. vibro com as …

ocaso

consigo reparar algumas coisas nessa nova estação.  este movimento de passar ano após ano pelos mesmos fenômenos me fez um pouco obcecada em reviver as cócegas dos primeiros dias de quando o tempo muda.  agora, em outro andar do globo. experimento uma confusão. enquanto vejo folhas caindo, procuro pela primavera. as manhãs são frias, mas dentro de mim há a esperança de verão.  nunca pensei …

colher e escrever uns textos

é o que estou a fazer. descolei um trampo em uma vindima. passo minhas horas de camponesa a encher caixas com uvas que serão vinho. a uva e o vinho. entre os mil processos que acontecem entre uma ponta e outra, estou eu, inserida nesse contexto surpreendente que me exige força e bom humor, atenção e fone de ouvido, tesoura e chapéu. muitas coisas passam …

purificação

detergente, sabonete, sabão para a roupa e outras coisas do gênero estavam na minha lista do mercado.essas anotações não diziam sobre a qualidade da limpeza da casa nem da minha higiene pessoal. não se tratava do que faltava em meus armários ou em minha despensa, as prateleiras estavam lisas e de café a arroz, de biscoito a ovos, era preciso entupir um carrinho. mas, na …

convívio de colmeia

a caixinha de correio aqui de casa é do tipo esculpida na pedra do muro. um buraco escavado e moldado que de um lado avisa ao carteiro e de outro tem uma porta que pode, se for o caso, ser trancada até com cadeado. é super bem feitinha e gosto de pensar como consegue, com simplicidade e competência, resolver o negócio de correspondências. faça chuva …

cemitério de São Dinis

um campo verde. verdinho. e tem aquele azul por cima mais o dourado e os outros tons das árvores que emolduram o despenhadeiro ao fundo.lá embaixo, o rio, as pedras, e todas as águas que rumam, dizem, para o mar. a parede de pedra sustenta torre, sino, silêncios e dores de vários tipos.restos de corpos descansam a sete palmos de onde piso.pelo aspersor, a frescura …

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