dizer a poesia. senti-la, permiti-la, deixá-la tomar seu rumo e percorrer cada leitor, cada leitora, como se fosse seu dono, sua dona.
foi assim que escrevi este livro, que agora me põe à prova, mais uma vez.

um livro significa tantas coisas e mexe de várias formas com um número tão grande de pessoas, que eu nem consigo citar e explicar.
o que posso dizer é que é emocionante saber que consegui caminhar tão longe a ponto de estar nessa vitrine linda que é a Editora Urutau.

é difícil explicar um livro de poesia. a missão ficou por conta do Dédallo e da Lívia que escreveram a orelha e é ela que coloco aqui para dizer um pouco sobre ele.

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Nós compartilhamos você e entendemos algumas coisas próprias nossas. Escrever lado a lado esta orelha exige duas mãos que tentam se confundir, mas não conseguem porque são duas escutas. Temos que ceder um para o outro o entendimento dos versos. Lemos assim e assado. Para você talvez fique claro nesta “carta de mil linhas” quem é quem. No fim das contas, não importa. Os versos falam para além de nós, de você.

Em O amor e outros sufocos há uma vontade de distrair-se da vida, mas uma tensão sempre atenta para o abismo, para a queda. Você diz para si mesma o querer outra, para a que não foi, quer ser, mas reage e não acredita que pode. Vai em frente. Pensa e duvida, para. Segue. Fala que sim. Não morre na cama. Nunca morreu. Vida, sua vida. Comeu fatias vagarosamente, guarda a com mais recheio para o amanhã. E não há, nunca houve.

Ora parece uma estranha absorvida por algum insignificante já em decomposição. Ligeira, você faz a compostagem de um verso para o outro — excluindo os vícios do século passado, dos homens passados — à luz de si mesma. Cicatrizes permanecem.

Havia uma cicatriz no seu joelho, talvez hoje não haja. Não porque o corpo incorporou, foi expulsão, superação, o corpo é outro. E aquilo tudo que o corpo é volta e meia deixa de ser para além.

Agora estamos aqui, ambos, a escrever sobre o que lemos com o medo da verdade, pela saúde, pela saudade, pelo quase ser que está nas palavras, versos, na angústia de antes, pois sempre é a angústia a motivação primeira, a nossa e a sua.

A angústia e a escrita. É sempre a escrita. Os recados na porta da geladeira antes de viajar, os versos compartilhados, os bilhetes deixados nas semanas mais difíceis de nossas vidas. Os vícios de linguagem, as cartas trocadas que insistimos em mandar pelo correio, provocando o cruzar do oceano, a espera, o tempo fazer efeito, a transformação, quem sabe. O anseio que sentimos ao iniciar cada primeira leitura de cada novo livro seu; tudo que escorre de nós enquanto lemos, acusando: é ela, é nossa mãe.

Em sua “caixa cheia de vida, entupida de pequenas mortes” você consolida cada caminho torto, certo. Ao ler seus sufocos, trocamos nossa solidão pela sua, e concluímos, como traz o poema que abre o livro, “ninguém está preparado para saber do que são feitos os versos de uma poeta”.

Dédallo Neves & Lívia Maria