Arquivo Mensal: setembro 2014

elixir

há 19 consultas conheço o Dr LC; sabemos pouco um do outro, mas o fundamental para conversas prolongadas, consultas fora do padrão 20 minutos do plano de saúde, papos sobre o que lhe brota.  ele tem mais que o dobro da minha idade e é especialista não só na sua escolha médica. sabe muito da vida e dos comportamentos. gosto de ouvi-lo.  dia desses me …

um milhão de carneirinhos

cara insônia, venho por meio dessas mal traçadas linhas pedir que você vá embora. mui educadamente solicito sua retirada dessa cama, desse quarto, daquela sala e da outra, da cozinha, do quartinho. dessa casa.  vá! você não é bem vinda aqui, não gosto como se comporta: esse silêncio de pedra, essas sombras na escuridão, essa invasão de pensamentos ruins.  caminhe pelos fusos e faça companhia …

entre bancários, automóveis, ruas e avenidas

moro em Curitiba. sempre morei. mas não me acostumo a algumas particularidades da terra. a chuva está na lista. acho que não tenho casa própria porque gastei todo recurso na compra de guarda-chuvas. melhor, se tivesse guardado a primeira sombrinha que tive e colocado num cofre a grana que gastei nas que vieram depois, teria dinheiro para apartamento no Leblon – e lá poderia deixar …

na rede

problemas com meu computador.  há tempo ele não é mais o mesmo. mas temos um caso antigo, amor de muitas conexões, somos parceiros de dados e inventamos juntos um mundo só nosso. por isso insisti tanto.  mas o desgaste é geral e não consigo mais chegar perto sem querer arremessá-lo na parede. pobre branquinho, tchau companheirinho. enquanto o novo não chega, tenho me virado com …

canoa

o vento que vem do leste o leste que nasce em mim rodopio de tempestade que acaba sem ter fim nas manhãs me faço em sol toco músicas que me acreditam sopro nuvens, lanço raios e me dispo no que liberta conheço as tardes de saliva que me jogam de novo ao mar puxam e me largam  na promessa de voltar

cartas para mim

antigamente, quando a vida ainda seguia a marcha das ilusões, tinha dois medos: ficar sozinha e não escrever.  o primeiro temor, nasceu quando nasci. de tanto provar da solidão e não encontrar sentido em fazer laços indissolúveis, a voz de fora passou a proclamar que vida desacompanhada era mesmo o estado natural de todo mundo, todo mundo do meu mundo. afirmei que a caminhada depende …

sexy Iemanjá

não me importa que a chuva caia lá fora e que eu precise de capa, galochas e cachecol para enfrentar o mundo. o calendário avisa que num instantinho será verão. a notícia me anima.    não posso mais ficar espichada em esteira lagarteando sob o sol. passei da idade e das condições de deixar as pernas à mostra. em poucos lugares vivo sem ar condicionado. …

書道

Antigamente tinha letra bonita. Caligrafia calma, desenhada, pintada na vontade de estar perto do papel. Até minha assinatura era mais caprichada. Os diários dos anos que ficaram nos cadernos são documentos que denunciam uma vontade de fazer registro com decência, mesmo quando as notas não eram tão agradáveis. A máquina de escrever não foi uma sensação pra mim. Fiz o curso obrigatório, aprendi sequência das …

inimigo do amor

há coisas que me atrapalham a vida. não a vida inteirinha, a vida de todo o dia, a vida corriqueira. mas a vida restrita, a vida de dentro, a vida da madrugada. uma delas, e acho que a pior, é o ciúme. já fiz tratado comigo mesma, já pensei um milhão de vezes, já conversei com amigos. nada tira de mim a baixeza de sentimento tão pobre. me …

essas coisas que diz toda mulher

  Me disseram que eu tenho que usar artigos. Não posso mais, simplesmente, “buscar Maria”, tenho que “buscar a Maria”; não dá para “jantar com Carla”, preciso “jantar com a Carla”.   Também não posso mais sair de casa sem protetor solar. Nem para ir ao mercado ou à casa da minha mãe… e olhe que tudo fica em Curitiba, que nem sol tem.   …

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