Antonina Arquivo

aprender a morrer

estou a sonhar com os dias de Antonina. aqueles que passam calmos e duram muito, se alongam em minutos e giram preguiçosos no relógio. saudade do ar sufocante que de vez em quando é cortado por uma brisa leve que vem não sei de onde e some no sopapo do calorão que abafa, inibe, mata de tédio. tenho vontade de ficar naquela velha varanda a …

sonhos de arquitetar

a zanzar pela internet na companhia dos sonhos de sempre, encontrei um terreninho pra vender em Antonina. coisa modesta, num lugar que nem é o meu escolhido nas noites de liberdades, mas mesmo assim fiquei interessada. o valor, que parece caber numa loucura de financiamento em tempos difíceis, me seduz. tenho cá minhas urgências de Antonina. em suposições sem fim, comecei a pesquisar sobre construções …

fragilidade de cristal

sou frequentadora de brechós, sebos e afins. gosto muito. tenho fascínio por objetos e suas histórias. quando compro alguma coisa, imagino por horas, dias, semanas sua vida útil até chegar em minhas mãos. faço retrospectiva detalhada de tudo o que lhe aconteceu e desmanto histórias fantásticas. o exercício dessa ficção me alegra. dia desses estava em Antonina. em viagem dentro de um maravilhoso mercadinho de …

de olhos abertos

Teve um tempo da minha vida que sonhei em ser escritora. Tinha a imaginação fértil e nenhum medo de desejar. Minha cabeça não pensava nas praticidades. Água, luz, telefone, casa própria, escola dos filhos, plano de saúde, essas coisas todas que insistem no cotidiano real estavam fora dos meus devaneios. Tinha feito plano (im)perfeito: moraria numa varanda de Antonina, com vista para baía, passarinhos ao …

um pouco encantado, um pouco real

Existe, está no mapa, tem rádio, prefeito, igreja, bordel, escola, restaurante. Tem ruas, praça, calçada e até semáforo – um só, mas está lá: atenção, pare, siga. Tem lojas, farmácia, peixaria e mercado. Tem música, lendas, apelidos e carnaval. Tem água, barcos, porto, trilhos, árvores e flores. Tudo muito tátil, muito ao alcance das mãos, dos olhos. Mas a léguas do entendimento possível em outros …

haverá paradeiro para o nosso desejo?

Eu fiz um plano para minha vida. Há anos o acaricio. Minhas melhores músicas são para niná-lo. Meus versos definitivos, para saudá-lo. No meu primeiro dia de lucidez, revirei os olhos, pintei tela e resolvi sonhar. Sonhei um sonho só. Não conheço outro. Nesse caso nunca tive pés fincados. Deixei o vento soprar, fechei os olhos e vi o melhor cenário, aquele, de fadas. E flutuei tanto …

nove experiências

– Rua XV (o calçadão da XV é o meu chão. Devo ter dado meus primeiros passos naquele lugar. Aprendi a olhar pra cima e ver as construções, a olhar pra baixo e seguir o caminho, a olhar pra frente e reparar as pessoas, a olhar pros lados e anotar vitrines (do Rei do Disco a H Stern, da Gênova a Savoy, da Famílias ao …

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