Arquivo Mensal: janeiro 2015

leque, palavra engraçada

finalmente aconteceu de eu ter um leque. ando, pra cima e pra baixo, a me abanar. não com a elegância das europeias do século XVII, mas esbaforida pelo calorão das estações, do ano e da idade. é divertido ter um leque. nesse momento da vida, não há acontecimento em que ele não seja figurino obrigatório. o lance de tentar afastar as quenturas internas e externas …

pés no chão

Comecei a dar meus primeiros passos quando tinha sete meses. Antes de completar um ano, larguei os apoios e me mandava pra lá e pra cá sozinha, autônoma, dona de minhas perninhas rechonchudas, a comprovar com a testa a dureza dos móveis e das primeiras escolhas. Algum tempo depois, não sei se pelo exercício precoce ou por alguma má formação ou, ainda, só por modismo, …

entre a salvação e a perdição

Sim, eu sei, tenho tendências ao drama. Desde sempre. É um drama autêntico, sincero, uma coisa que me pega no contrapé e quando vejo já estou estirada no sofá, mão direita tampando os olhos, lágrimas escorrendo e soluços desenfreados por ter lido uma desgraça no jornal ou por não ter recebido telefonema esperado ou por pensar nas pessoas que estão internadas no hospital aqui da …

a beleza de verdade

Tenho visto aqui e ali, e cada vez mais, protestos contra a ditadura da beleza; gente que está cansada de ser apontada, comentada, observada pela mira implacável de quem valoriza muito o envelope. Também, em movimento contrário, bizarrices sobre a aparência; gente louca a fazer coisas inacreditáveis para enfrentar o espelho e os olhares alheios. Nunca fiz plástica, por incompetência não consigo emplacar regime, mas …

deseconomia doméstica

de todos os meus eletrodomésticos o que não vivo sem é a máquina de lavar roupas. tudo menos ter que enfrentar o tanque. o aspirador de pó também está entre os queridinhos, mas não é páreo para a guerreira da área de serviço. há alguns anos, grana curta, problemas grandes, minha máquina parou de funcionar. esse tipo de coisa sempre acontece nos piores momentos, se …

confusão de sintaxe

Cada vez mais as palavras me pegam pelo som, só depois a revelação dos sinônimos. Há palavras que adoro, mas que não têm significado bacaninha. A outras sempre atribuo um pensamento bom, apesar de saber de sua intolerância com o bem estar.    Por exemplo, radicais livres. Assim, no campo sonoro, não consigo conferir-lhe maldades. Combater os radicais livres me parece uma violência. Outra, que …

carnaval

não sei dizer se algum dia gostei de carnaval. me chegam uns pensamentos de alegria forçada, coisa encomendada, espécie de obrigação de data. há um encargo de sorrisos e cores no carnaval. acho que nunca morou em mim alacridade de tal tamanho que fosse capaz de me fazer, com sinceridade, cantar, saracotear, viver intensamente os dias determinados. minhas emoções são um pouco rebeldes. lágrimas me …

lar doce lar

tenho o grande privilégio de trabalhar em casa. Havaianas, camiseta velha, cabelo domado em coque. horário flutuante, a necessidade é o cartão ponto.   gosto. gosto muito. apesar de ter vivido grandes momentos em outros ambientes, com colegas divertidos, movimentos inesperados, conversas empolgantes, não tenho vontade de trocar a rotina. há muito prazer por aqui. dia desses, li num blog escrito por alguém que acha …

os alquimistas estão chegando

ilhada em casa, onde o mundo me chega nos mais variados formatos, recebo dois vidrinhos. iguaizinhos, gêmeos. o rótulo me é de impossível compreensão. procuro os óculos, a lupa e continuo lerdaça com o nome: Óleo de Sucupira. desconhecimento. achei que não podia ser coisa de comer, porque geralmente as coisas de comer, ou de colocar na comida, têm embalagens maiores, melhores, cheias de pensamentos …

pessimismo

Penso na frase adaptada de John Donne: “A morte de cada homem diminui-me, pois faço parte da humanidade; eis porque nunca me pergunto por quem dobram os sinos: é por mim”. E ao recorrer ao poeta, um vazio estranho me toma. Fico triste pela humanidade, por esse vendaval de ocorrências difíceis de pensar, quiçá de superar. Me vejo adolescente, a achar que tenho que mudar …

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